A decisão do ministro Alexandre de Moraes de determinar o uso de tornozeleira eletrônica a Jair Bolsonaro adicionou água quente na efervescência política que o tarifaço de 50% do presidente Donald Trump provocou no Brasil.
No caso brasileiro, o componente político do ataque comercial dificulta o trabalho do vice-presidente Geraldo Alckmin de buscar um acordo com os americanos para evitar a sobretaxa no próximo dia 1º de agosto.
Como negociador, Alckmin tem mantido postura discreta. Mas terá nos próximos dias que se equilibrar entre um discurso moderado de negociação, como querem os empresários, sem abrir mão do espólio político da crise a favor do governo, que interessa ao presidente Lula.
Faltando 13 dias para a definição da sobretaxa, alguns setores empresariais já começam a mostrar, longe dos holofotes da mídia, impaciência. A preocupação agora é com o risco de uma divisão entre os empresários (até agora unidos) em relação à estratégia negocial.
O chacoalhão do tarifaço levou até mesmo um grupo de empresários a apresentar a Alckmin uma proposta alternativa a uma retaliação do governo Lula. Eles querem viabilizar a construção de uma agenda conjunta para a diminuição das tarifas de importação do Brasil e dos Estados Unidos em alguns setores.
A ideia é tornar viável o crescimento da balança comercial entre os dois países, possibilitando a redução ou até mesmo a eliminação da alíquota de importação.
Nas conversas desta semana, os empresários alegaram que alguns países já estão fazendo uma negociação desse tipo.
Em situações normais, uma proposta como essa não partiria da indústria. Nas condições atuais da guerra comercial, pode até fazer sentido para os setores que têm tudo a perder com uma retaliação.
Mas, novamente, deve esbarrar nas resistências históricas da indústria nacional a uma maior abertura comercial do país, acostumada com proteção tarifária para os produtos brasileiros.
Não é uma alternativa fácil num momento em que Trump estica a corda na direção contrária de aumento das tarifas.
Fonte ==> Folha SP