Há cerca de um mês, os usuários do sistema de ônibus de São Paulo estão reféns de um fenômeno de violência obscuro e inaceitável. Veículos têm sido atacados por objetos, deixando feridos e passageiros diariamente amedrontados.
Pode-se considerar que os casos são de difícil investigação, dado seu caráter aleatório, mas isso não justifica a lentidão da Polícia Civil em solucioná-los.
Segundo dados da prefeitura, entre 12 de junho e 15 de julho, 466 veículos foram alvos desse tipo de vandalismo na cidade. O fenômeno não se restringe à capital. Dos 39 municípios que compõem a região metropolitana de São Paulo, 27 deles registraram 289 ataques desde 1º de junho.
Uma criança de 10 anos foi ferida por estilhaços de vidro de uma janela quebrada. No caso mais grave até agora, uma pedra atingiu uma mulher de 31 anos, que teve ossos da face fraturados.
No dia 10, o governador Tarcísio de Freitas (Republicanos) disse que a população “não precisa ter medo” da onda de depredação sem sentido, já que sua gestão havia instituído uma “mega operação” de investigação.
Mas, por óbvio, milhões de pessoas que dependem do transporte público para locomoção estão com medo. Não são poucos os passageiros que se recusam a sentar à janela, deixando o corredor do veículo lotado.
E, se a operação instalada pela Secretaria de Segurança do estado é de grande dimensão, como afirmou Tarcísio, ao menos até agora não ofereceu respostas à altura da gravidade do problema.
A motivação ainda é um mistério. Há duas hipóteses: disputas entre empresas por mudanças em contratos de transporte e desafios feitos na internet que incitam jovens a condutas perigosas e criminosas. A participação da facção Primeiro Comando da Capital (PCC) foi cogitada, mas descartada pela polícia.
O prefeito Ricardo Nunes (MDB) reclamou, com razão, da demora nas investigações. A cúpula da Segurança paulista defendeu a atuação do Departamento Estadual de Investigações Criminais e citou as prisões realizadas —até quarta-feira (16), 8 suspeitos haviam sido detidos.
No entrevero entre estado e município, passageiros ficam apreensivos em exercer com segurança seu direito de ir e vir. Como se não bastasse o medo da violência urbana tradicional, com furtos e assaltos, agora correm risco de ser atingidos por uma pedra a caminho do trabalho.
O poder público tem o dever de proteger a população, com ações robustas em inteligência investigativa e reforço do policiamento.
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Fonte ==> Folha SP