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Campos Elíseos no fio da navalha – 08/07/2025 – Opinião

A imagem mostra uma cidade à noite, com muitos prédios iluminados. No céu, nuvens escuras estão presentes, e um raio é visível, iluminando a cena. A atmosfera é de tempestade, com uma iluminação dramática causada pelo relâmpago.

O governo do estado e a Prefeitura de São Paulo vêm anunciando um novo projeto de “revitalização” para a região da Luz, Santa Ifigênia e Campos Elíseos. Não é a primeira vez. Em cada uma das tentativas anteriores, quadras foram desapropriadas e demolidas, esvaziando literalmente e destruindo concretamente essa que é uma das áreas mais antigas da cidade.

A região, bem localizada, dotada de infraestrutura, qualidades urbanísticas e patrimoniais reconhecidas, foi se transformando em um cenário em ruínas. Esse cenário, ao mesmo tempo em que faz com que a área permaneça acessível a populações vulnerabilizadas, vai impossibilitando o desenvolvimento de suas vidas.

Nesse contexto, ali também se instalou uma cena aberta de uso de substâncias entorpecentes (“fluxo”). Conhecida como “cracolândia”, ganhou primeiro plano no debate sobre as políticas para a região, estendendo equivocadamente sua imagem sobre uma vasta área —que vai da Favela do Moinho aos bairros dos Campos Elíseos, Luz e Santa Efigênia— e seus ocupantes, que passaram a ser abordados como “ecossistema do crime”.

Sob a justificativa do combate às drogas, o bairro foi marcado para morrer, mobilizando para isso (vale tudo na guerra!) meios legais e extralegais e muita violência. As medidas que foram e estão sendo implementadas vão, na verdade, muito além da coibição do crime e do combate aos mercados ilícitos: estão desmontando um território importantíssimo para a história da cidade, sem o menor respeito às existências materiais e humanas deste lugar.

O plano da vez é a PPP (parceria público-privada) do Centro Administrativo pelo Governo do Estado, projeto imobiliário cujos terrenos e empreendimentos serão cedidos para a iniciativa privada, sob a justificativa de viabilizar a instalação de órgãos administrativos estaduais por tempo determinado. Muitos deles já ocupam outros prédios no centro. Ao se mudarem para os novos, deixarão os antigos vazios, ampliando o escandaloso número de imóveis sem uso na região.

Está prevista outra PPP de moradia que não responde a nenhum estudo de necessidades habitacionais e ainda não tem projeto. Aliás, a experiência de PPP municipal de habitação na Luz demoliu moradias precárias que haviam ali, sem atender grande parte de seus antigos moradores.

Para garantir a execução desses projetos em nome do “combate às drogas” e da “revitalização”, pensões foram interditadas, despejando sem qualquer forma de atendimento centenas de famílias; a Favela do Moinho está sendo despejada; mais de 900 famílias das quadras onde será instaurado o Centro Administrativo serão removidas; além disso, pessoas usuárias do “fluxo” foram dispersadas em várias outras cenas de uso na cidade; atividades culturais e de redução de danos promovidas por diferentes coletivos (como o Cine Fluxo, o Pagode na Lata e o Teto Trampo e Tratamento) foram coibidas.

Na mesma lógica, o espaço do Teatro de Contêiner (uma espécie de oásis, praça cultural que agrega diversos espetáculos, um espaço de convivência e a sede do Tem Sentimento, projeto social voltado à geração de renda para mulheres em situação de vulnerabilidade) está sendo despejado.

O espaço ocupa um terreno público, mas foi um grupo de teatro independente que o ocupou e lhe deu as funções públicas de promoção de convivência e cultura, necessárias à sustentação da vida em qualquer bairro.

E assim um território popular precariamente instalado nessa área de importância histórica vai sendo destruído. Para que afinal?

As mesmas operações que viabilizam o processo de eliminação desses territórios também abrem frentes de expansão imobiliária. Se, no resto da cidade, a iniciativa privada tem transformado os bairros comprando os imóveis um a um para construir suas torres de ativos financeiros, na Luz a incorporação imobiliária ganha um aliado de peso para fazer isso na marra: o Estado.

O aparato estatal que deveria estar sendo mobilizado para proteger vidas, história, memória, arquitetura, patrimônio, torna-se máquina de eliminação e destruição para entregar um pedaço da cidade, limpinho, para o complexo imobiliário financeiro.



Fonte ==> Folha SP

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