Antes de todo o noticiário ser sequestrado pela nova tarifa (e a clara tentativa de interferência na política interna brasileira) de Donald Trump, todos os canhões de marketing do governo Lula estavam apontados para a tal taxação dos “BBB”s —bancos, bets e bilionários. E isso pode ser uma boa dica para investidores atentos.
A ideia aqui é descrever a vida real e tirar lições dela para melhorar suas finanças. As bandeiras e a retórica ficam para quem ganha a vida com marketing político. Fazer a chamada “justiça tributária” é uma obrigação dos governantes. Colocá-la em pauta é mais uma jogada eleitoral, já que ninguém pode dizer que é contra a justiça, bem como ninguém vai criticar investimentos em saúde, educação, segurança etc.
Atacar bancos e ricos (novos ou tradicionais) é hit de sucesso para candidatos de diferentes matizes, em diferentes eras. Top 1 em países com uma população de endividados e sem perspectiva de mobilidade social. Breve consulta aos livros de história deixa claro que os banqueiros e os milionários continuam apertando as mãos dos eleitos.
Getulio Vargas atacava a “ditadura econômico-financeira” dos ambiciosos “intermediários do dinheiro”, como mostra pesquisa do professor Pedro Paulo Zahluth Bastos. Em 2022, Jair Bolsonaro apontava os bancos como seus inimigos, dizendo ser alvo deles por ter aumentado a incidência da CSLL (Contribuição Social sobre o Lucro Líquido) sobre as instituições e ter “criado” o Pix.
Com mais ou menos imposto, com novas ou velhas tecnologias, os bancos continuam divulgando lucro recorde. No tempo de vacas magras, prosperam por ter dinheiro para esperar. Na bonança, ganham com a circulação. E apertá-los muito pode encarecer demais o crédito, o que vira novo problema para os governantes.
Não tenho estofo para dizer como e quanto os bancos devem ser tributados. Mas veja bem: se a cada ciclo eleitoral há um mandatário dizendo que os bancos estão lucrando alto, cabe ao investidor fazer disso uma oportunidade.
Vamos aos números. Você deve conhecer os índices setoriais da Bolsa. Eles são como mini-Ibovespas voltados para algumas áreas. E quando comparamos o IFNC, que representa ações de bancos e instituições financeiras, com outros índices, como o próprio Ibovespa, o IFIX (fundos imobiliários), o IEE (energia), o Imat (materiais básicos) e o Imob (empresas do setor imobiliário), vemos os bancos tomarem a dianteira em quase todas as janelas temporais.
Tarifaço
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Fiz o exercício de comparar o IFNC (o índice dos bancos) com o Ibovespa (principal indicador do nosso mercado) em todas as janelas de um, três e cinco anos, dos últimos 20 anos. De 2006 até agora. E o resultado é uma vitória acachapante do setor financeiro sobre o resto da Bolsa.
Nas 16 janelas quinquenais possíveis, o IFNC superou o Ibovespa 75% das vezes, com uma diferença média de mais de 35 pontos percentuais. Nas 18 janelas trienais, foram 83% de vitórias, com vantagem média acima de 20 pontos percentuais. E nas 20 janelas anuais, os bancos levaram a melhor 65% das vezes, com vantagem média de mais de 11 pontos percentuais.
Se a tal taxação dos BBBs vai virar efetivamente política de Estado ou se manter como ativo de campanha eleitoral deve pouco importar. As ações dos bancos parecem imunes a discursos e governos.
Fonte ==> Folha SP