Com o mundo ocupado em lidar com a truculência de Donald Trump na imposição de tarifas comerciais, é fácil perder de vista outra grande fonte de desequilíbrios e pressões concorrenciais: a China.
O mercado americano se fecha a importações, e desta vez de forma generalizada na comparação com a guerra comercial no primeiro mandato do americano, que focou no gigante asiático.
A reposta chinesa naquele momento foi utilizar outras geografias para manter seu acesso, mas agora os Estados Unidos estão determinados a não mais permitir essa estratégia, com cobranças ainda maiores sobre os países que atuarem como entrepostos de produtos chineses.
Pequim também tem responsabilidade pelo acirramento dos conflitos, já que desde a pandemia, com o esgotamento dos vetores de crescimento ligados a infraestrutura e construção, direcionou poupança e crédito oficial para a indústria, cujos saldos comerciais crescem sem parar e se aproximam de US$ 2 trilhões em bens manufaturados.
Assim, a China redireciona mais agressivamente seu excesso produtivo para outros. É o caso do Brasil, cujo volume de importações do país cresceu 35% entre janeiro e maio deste ano, na comparação com o mesmo período de 2024 —quase 3 vezes mais que a expansão das compras totais.
Em valor, o aumento das importações da China é menor (27%), dada a queda de preços que decorre do excesso de capacidade na maioria dos setores. No entanto, o país ocupou 26,3% das compras brasileiras (US$ 35,7 bilhões) no primeiro semestre.
Não há dúvida de que Pequim pratica um modelo mercantilista, com subsídios e crédito estatais, enquanto mantém uma insuficiência estrutural de demanda interna, algo que desestabiliza o jogo competitivo e penaliza indústrias de todas as regiões.
Para um equilíbrio global mais sustentável, a China precisa reorientar sua economia, incentivando o consumo doméstico e reduzindo a dependência de superávits comerciais. Isso envolveria reformas como aumento de salários e mais políticas sociais.
Para o Brasil, o avanço chinês traz oportunidades e desafios. O consumidor é beneficiado pela queda de preços e acesso a produtos. Por outro lado, acentua-se o risco de desindustrialização.
O Brasil deveria ser pragmático: diversificar parceiros, investir em inovação e fechar acordos que garantam transferência de tecnologia e investimentos na produção local em ambiente econômico favorável —pauta minada pelo desequilíbrio fiscal.
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Fonte ==> Folha SP