São Paulo
Foi em plena pandemia de covid, em 2020, que a atriz Anna Torv, 46, precisou encarnar uma jornalista na série australiana “The Newsreader”.
Naquele momento, lembra Anna, os telejornais haviam voltado a ter uma relevância no cotidiano das pessoas que não se via há muito tempo. Na série, que se passa em 1986 na cidade de Melbourne, na Austrália, ela vive Helen Norville, âncora do telejornal “News at Six”.
“Quando cresci, nos anos 1980, só tinha quatro canais de TV na Austrália e as famílias se reuniam toda noite para assistir aos jornais. Durante a covid, foi a primeira vez desde então que vi isso acontecer: todo mundo ficar colado na TV para se informar. Percebi o que um âncora de jornal representa. Isso impactou na forma como interpreto a Helen”, disse em entrevista ao F5.
“Nós olhamos para os jornalistas em busca de segurança, conforto e informação. Queremos que eles sejam melhores que nós. Queremos que eles sejam mais inteligentes que nós e ao mesmo tempo apresentem as coisas de um jeito palpável”, afirma.
A primeira temporada de “The Newsreader” foi ao ar em 2021. Agora, em 2025, Anna se despede da personagem, já que a terceira e última temporada estreou em 8 de julho. Sucesso de audiência na Austrália, a série da Universal+ está disponível no Brasil pela Amazon Prime Video.
Anna Torv é conhecida por papéis de mulheres fortes, como a policial Olivia Dunham de “Fringe”. Fez também a Doutora Wendy de “Mindhunter” e a durona Tess em “The Last Of Us”. Antes de começar as filmagens de “The Newsreader”, ela fez laboratório com jornalistas renomados de seu país. “Percebi que a Helen teria que ter tenacidade e integridade”, conta.
A atriz não tem conta no Instagram, nunca tuitou no X nem jamais teve um perfil no Facebook. Alheia às redes sociais, ela diz que costuma se informar da maneira antiga: lendo jornal.
Em tempos de guerra comercial, guerras com drones, inteligência artificial e desinformação reinando, ela diz acreditar que o ser humano perdeu um pouco da capacidade de ser informar ativamente. “Se você lê as notícias, sabe o que é importante, quais histórias são relevantes. Mas, atualmente, as pessoas não ficam nem sabendo do que está acontecendo a não ser que isso seja entregue a elas”, diz.
“Acho que cabe a nós como indivíduos nos certificarmos de que estamos lendo notícias imparciais. E o único jeito de fazer isso é não ler só o que cai aos nossos pés. Me certifico de ver pelo menos as capas de três jornais diferentes todos os dias. É fascinante ver o que está em cada uma, ver os diferentes pontos de vista e assim obter algo mais próximo da verdade”.
FONTES DE INFORMAÇÃO
Para ela, as redes sociais ajudam a manter a população mal informada, na medida em que o algoritmo entrega o que já faz parte da tendência ideológica de cada usuário. “Cabe a nós ampliar nossos horizontes em vez de ficar à mercê do que está sendo entregue. Isso está fazendo o mundo ficar polarizado”, avalia. “São informações que não são curadas pessoalmente.”
Apesar disso, ela explica que sua rejeição às mídias sociais não partiu exatamente de uma ideologia. Está mais para uma falta de interesse mesmo. “Nunca fui muito tecnológica, ainda telefono para os meus amigos. Mas hoje isso se tornou quase que um posicionamento, tipo eu ser contra as redes sociais. Mas eu apenas não tenho, nunca tive”, diz.
Em uma cena de “The Newsreader”, o jornalista Dale Jennings (Sam Reid), fica obcecado com comentários e reviews de seu trabalho. “Ele consegue todo o reconhecimento e ele vai ficando cada vez mais focado nisso, ele precisa entregar”, conta Anna.
Apesar de a série se passar nos anos 1980, quando não havia redes sociais, dá para fazer um paralelo com os dias atuais. “Não sei o quão saudável isso é”, comenta a atriz. “Se manter informado também tem a ver com a nossa própria bússola moral. Saber o que você acha bom, o que funciona, ter sua própria estética, sua própria verdade”, diz.
As três temporadas de “The Newsreader” está disponível no streaming Universal+.
Fonte ==> Folha SP