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Taxa de Trump ameaça colapso às exportações de suco de laranja

São Paulo Exportações EUA

A indústria brasileira calcula um impacto de até 70% em impostos sobre as exportações do suco de laranja ao mercado dos Estados Unidos. O aumento da carga tributária, previsto com o início da taxação anunciada pelo presidente Donald Trump – que promete vigorar a partir do próximo dia 1º – ameaça a viabilidade econômica de produtores, indústrias e cooperativas que sustentam a liderança global do Brasil no setor.

As exportações brasileiras de suco de laranja encerraram a safra 2024/2025 com a maior receita já registrada, totalizando US$ 3,31 bilhões. O valor representa uma alta de 31,4% em relação à safra anterior. Em contrapartida, o volume embarcado foi o menor da série histórica, com 745.593 toneladas, o que corresponde a uma retração de 21,7%. Os dados são da Secretaria de Comércio Exterior (Secex) do Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços.

Para os Estados Unidos, as exportações somaram 305.805 toneladas, recuo de 3% em relação às 315.465 toneladas embarcadas na safra passada. O valor arrecadado, contudo, cresceu de forma expressiva: US$ 798 milhões para US$ 1,31 bilhão, alta de 63,8%.

O suco de laranja brasileiro paga US$ 415 por tonelada em taxas nos EUA, o que representa entre 15% e 20% do preço total. Se a nova alíquota se concretizar, restará 30% da receita para cobrir todos os custos operacionais, segundo cálculos da Associação Nacional dos Exportadores de Sucos Cítricos (Citrus BR).

“A safra começou recentemente e segue até o início do próximo ano. O setor está muito preocupado com a possibilidade de não ter acesso ao seu segundo maior mercado. Uma tarifa de 50%, somada aos US$ 415 por tonelada já pagos — valor superior ao dos nossos concorrentes —, inviabiliza completamente os embarques. Por isso, reforçamos a necessidade de diálogo, negociação e pragmatismo”, afirma o diretor-executivo da CitrusBR, Ibiapaba Netto.

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Representantes do setor produtivo da laranja participaram de uma reunião do Comitê para Adoção de Medidas de Proteção da Economia Brasileira, grupo recém-criado pelo governo federal para o enfrentamento da crise causada pelo anúncio da nova taxação. “Essa linha do diálogo precisa ser mantida. Ainda há tempo para a negociação, e confiamos que o bom senso vai prevalecer”, acredita o presidente da CitrusBR.

O setor solicitou ao vice-presidente da República, Geraldo Alckmin (PSB), que o governo federal negocie uma ampliação do prazo para que a tarifa de 50%, previsto para 1° de agosto, entre em vigor. Para o presidente da Câmara Setorial de Citricultura de São Paulo, Antônio Carlos Simonetti, o momento exige atenção do setor e das autoridades.

Ele aponta que os baixos estoques e a possibilidade de armazenamento abrem possibilidade para um tempo maior de reflexão. “A taxa de Trump sobre o suco de laranja brasileiro gera transtornos e uma extrema preocupação. Porém, ainda há tempo para negociar. Como os estoques de suco estão nos níveis mais baixos de toda a história da citricultura brasileira, é necessária a reposição. A laranja a gente consegue moer, armazenar. É preciso cautela e paciência”, acredita Simonetti.

Setor de suco de laranja alerta que tarifa de Trump torna exportação inviável e ameaça colapso; Brasil exportou 305,8 mil toneladas para os EUA na última safra.Setor de produção do suco de laranja alerta que tarifa de Trump torna exportação inviável e ameaça colapso; Brasil exportou 305,8 mil toneladas para os EUA na última safra. (Foto: Lau Polinésio/CitrusBR)

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Mercados alternativos não absorvem o volume de suco de laranja exportado aos EUA, avalia setor

Embora a União Europeia represente o principal destino do suco brasileiro — com 51,4% das exportações entre julho de 2024 e junho de 2025 — os Estados Unidos continuam sendo o parceiro mais sensível. Sozinhos, os norte-americanos absorveram 41,7% do volume total exportado no período, segundo a CitrusBR.

O diretor-executivo da entidade não acredita em mercados alternativos capazes de absorver o volume destinado aos Estados Unidos. “É impossível redirecionar. Não existe estrutura de recebimento de produto, linhas de envase e demanda. Não tem como absorver esse mercado”, afirma Ibiapaba Netto.

Segundo ele, tentar ampliar as vendas para a União Europeia significaria derrubar os preços de comercialização. “Não há outros mercados viáveis a serem explorados para compensar uma eventual perda no comércio com os norte-americanos”, afirma.

O efeito de uma tarifa extra sobre esse fluxo pode ser significativo. De 2002 a 2025, as exportações de suco de laranja do Brasil para os Estados Unidos aumentaram 1.239%, segundo informação da CitrusBR.

O valor embarcado saltou de R$ 97,7 milhões para R$ 1,3 bilhão, enquanto a participação norte-americana no destino final das exportações brasileiras subiu de 12% para 39,5%. No mesmo período, o avanço global das vendas brasileiras foi de 308,1%. Mas foi nos Estados Unidos que o salto mais expressivo se consolidou, ancorado no declínio da produção local.

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Flórida perdeu protagonismo e passou a importar do Brasil

Até a década de 1980, a Flórida liderava a produção mundial de laranja, com safras de até 10 milhões de toneladas. Hoje, o estado colhe 500 mil toneladas por ano, o que reduziu drasticamente sua capacidade de abastecimento interno.

A doença greening, também conhecida como Huanglongbing, é uma praga bacteriana que ataca as lavouras de citros, resultando na morte dos pomares se não houver o manejo adequado. Foi devido a esse fator que a Flórida teve a produção reduzida a níveis semelhantes aos da década de 1920.

“É uma doença que não tem cura e que acaba com os pomares de laranja. Ou você arranca e renova, ou eles definham. Também existe no estado de São Paulo. Só que a Flórida teve uma queda muito grande da produção nos últimos 10 anos por causa dessa doença, e o Brasil conseguiu ser resiliente”, explica Margarete Boteon, pesquisadora da área de citros no Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea), da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz da Universidade de São Paulo (Esalq-USP).

Com isso, os Estados Unidos passaram a depender estruturalmente das importações brasileiras. Atualmente, de acordo com a CitrusBR, metade do suco consumido pelos norte-americanos é produzido com frutas do Brasil.

Na safra 2024/25, os EUA representaram 41,7% das exportações brasileiras de laranja.Na safra 2024/25, os EUA representaram 41,7% das exportações brasileiras de laranja. (Foto: Lau Polinésio/CitrusBR)

São Paulo concentra a produção nacional

A base produtiva brasileira está concentrada no estado de São Paulo, que responde por 78% da produção nacional de laranja e por mais de 80% da fabricação de suco voltado à exportação. Segundo a pesquisadora Margarete Boteon, a Flórida se voltou ao consumo doméstico nos anos 1990, enquanto o Brasil ampliou sua vocação exportadora.

Para o presidente da Câmara Setorial de Citricultura de São Paulo, a grande produção paulista deve ser levada em conta pelos governos estadual e federal. “Essa tarifa é para o dia 1º de agosto, faltam menos de duas semanas. O governo precisa fazer as ações, fazer a defesa e negociar. São muitos produtores que estão esperando por uma solução. Acho que uma boa conversa é muito melhor do que uma má discussão”.



Fonte ==> UOL

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