Por Dra. Marcela Amaral, Psicóloga e Neuropsicóloga
A ansiedade deixou de ser um sintoma comum para se tornar o principal adoecimento emocional da era da alta performance. Em um mundo onde produtividade virou identidade e resultados definem valor, líderes, empresários e profissionais de alta exigência vivem uma epidemia silenciosa: o esgotamento mental travestido de eficiência. Nos bastidores das decisões importantes, nos intervalos que não existem, nas metas que se acumulam mês após mês, cresce um desgaste emocional que não aparece nos relatórios, nas fotos corporativas ou nas conquistas publicadas nas redes sociais. A ansiedade é hoje o novo “custo mental” do sucesso e está sendo paga, diariamente, com sono, memória, saúde e vida.
A biologia por trás do colapso
Ao contrário do que muitos ainda acreditam, ansiedade não é fraqueza. É biologia.
É o sistema nervoso entrando em modo de alerta contínuo, como se o corpo estivesse tentando se proteger de um perigo que nunca chega, mas que consome energia como se fosse iminente. A mente acelera, o corpo trava e a conta chega em forma de:
- irritabilidade constante,
- queda de produtividade,
- bloqueios cognitivos,
- dificuldade de tomar decisões,
- insônia,
- sensação de estar sempre “ligado”, mesmo exausto.
A verdadeira inquietação é que essa dinâmica se tornou normalizada, quase celebrada dentro das estruturas de alta performance. No consultório, a cena tem se repetido:
Homens admirados por sua força emocional e mulheres reconhecidas por sua capacidade de sustentar tudo carregam um peso silencioso. São referências para todos, menos para si mesmos.
Executivos que brilham no palco, mas desmoronam no travesseiro.
Empreendedoras brilhantes que se cobram mais do que qualquer chefe já exigiu.
Profissionais de elite que perderam a habilidade de descansar de verdade.
Eles performam com excelência, mas estão emocionalmente no limite. A ansiedade compromete justamente o que um líder mais precisa:
- clareza mental,
- raciocínio estratégico,
- regulação emocional,
- percepção de risco,
- qualidade dos relacionamentos,
- capacidade de liderar sem adoecer.
A ironia é cruel: quanto melhor o profissional, maior o risco de colapso, porque a pressão, as expectativas e o volume de responsabilidade são exponenciais. A saída não é romantizar pausas ou defender receitas superficiais.
É integrar:
- compreensão neuropsicológica,
- fortalecimento do sistema nervoso,
- psicoterapia baseada em evidências,
- intervenção medicamentosa quando indicada,
- práticas fisiológicas que restauram equilíbrio,
- reeducação emocional para decisões de alto impacto.
Alta performance não pode mais significar autodestruição elegante. A liderança do futuro exige outra lógica: líderes que continuam grandes, sem deixarem de ser inteiros.
O alerta que precisa ser ouvido

“Os líderes de hoje não estão falhando: estão esgotados. A ansiedade virou o custo emocional da alta performance, e ninguém deveria pagar com a própria saúde.”
A nova era da liderança será escrita não apenas pelos resultados, mas pela capacidade de preservar aquilo que os sustenta: a saúde mental.