O estado de São Paulo é a representação da mistura que caracteriza a sociedade paulista, constituída de gente de toda parte, que carrega a força pujante da diversidade de pessoas e culturas. Essa pujança está presente nos diversos movimentos sociais, culturais e políticos que transformam e desenvolvem o estado e o país.
A sociedade paulista, logo cedo, entendeu que a produção do conhecimento e a educação representam os grandes valores de um povo. Não obstante que diversos atores representativos da sociedade civil e política defenderam investimentos visando à criação de instituições de ensino superior.
É nesse cenário que despontam pelo estado de São Paulo, ainda no século 19, instituições como a Faculdade de Direito do Largo de São Francisco (1827), a Escola Politécnica de São Paulo (1893) e a Escola de Engenharia Mackenzie (1896). A partir do início do século 20, o ideal de se ampliar a formação em nível superior e o desenvolvimento científico ganha ainda mais ímpeto com a criação de inúmeras outras instituições, como a Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (1901), a Faculdade de Odontologia e Farmácia de Araraquara (1923), a Escola Paulista de Medicina (1933), a Faculdade de Direito da PUC (1946), entre outras.
Algumas dessas escolas, especialmente concentradas na cidade de São Paulo, deram origem à criação da USP (Universidade de São Paulo) em 1934. Um pouco mais tarde, surge a Unicamp (Universidade Estadual de Campinas) em 1966, a UFSCar (Universidade Federal de São Carlos) em 1968 e a Unesp (Universidade Estadual Paulista) em 1976, oriunda da agregação de diversos institutos isolados do interior paulista, a Unifesp (Universidade Federal de São Paulo) em 1994, e a UFABC (Universidade Federal do ABC) em 2005.
Foram ciclos de expansão sem precedentes que disseminaram o ensino superior por todo o território paulista. Essa história de quase 200 anos criou um ambiente que hoje é responsável pela produção de quase 45% do conhecimento científico nacional. O desenvolvimento dessa rede de escolas e institutos promovem inovações, oportunidades e alimentam outro ciclo transformador, o ciclo da inclusão social.
A diversidade social e cultural sempre estiveram no nosso DNA e representam a beleza e o maior patrimônio do povo paulista. Chega o momento dessa diversidade ser compreendida em toda a sua dimensão.
Uma outra transformação está em curso. Agora de grandeza social, com a emergência na última década de políticas para a inclusão de pretos, pardos, indígenas (PPIs) e estudantes de escolas públicas nas universidades. Isso transformou as universidades, públicas e privadas. Dados do Semesp e Inep de 2024 apontam que as instituições de ensino superior da rede pública do estado de São Paulo contam com 41,6% de estudantes PPIs. As políticas de cotas mudaram o ambiente universitário que hoje é mais diverso, múltiplo e plural. Esse processo, ainda em construção, vem mudando o panorama social do Brasil.
Embora os avanços sejam expressivos nos números, ainda há muito que avançar. O ambiente rico em investimentos em ciência e educação e um estado comprometido com o desenvolvimento do país, faz a cara de São Paulo. Desenvolvimento que somente poderá ser mantido com uma política de inclusão social. Todos devem enxergar seus lugares dentro das universidades públicas, no sentido de pertencimento social. E as universidades devem evidenciar sua relevância para serem vistas como tal, sob pena de negarem nossas lutas e nossas origens.
As políticas de inclusão serão, certamente, a maior transformação que São Paulo e o país poderão vivenciar ao longo de suas histórias. Algumas pessoas podem querer minimizar esse momento, mas a “filha da empregada entrar na universidade” faz coro à canção “Cidadão”, de Zé Geraldo, cujo trecho diz “Pai, vou me matricular”. Chegou o momento em que a gente paulista “não se deixa amedrontar”, se faz cidadã de verdade e derrota o discurso xenofóbico, aporofóbico e racista. Definitivamente, estamos diante de um o marco divisório entre um povo atrasado e um povo desenvolvido. Qual será a nossa cara?
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Fonte ==> Folha SP