O ano era 2016, e a Netflix lançava ao mundo uma série britânica de antologia que traduzia à perfeição os nossos medos mais sombrios em relação ao mundo moderno e as novas tecnologias. “Black Mirror” acaba de estrear sete novas histórias que têm de tudo um pouco, do tédio mais massacrante ao deslumbramento absoluto. E o mundo não para de fornecer matéria-prima para muitos episódios mais.
Só de ler a Folha nos últimos dias, olha quanta coisa daria pano pra manga da série: o primeiro grupo de astronautas mulheres desde 1963 viajou ao espaço, incluindo na comitiva uma cantora pop; sinais de um gás produzido por organismos marinhos foram encontrados num planeta com nome de senha de banco, K2-18b, aumentando as chances de encontrar vida fora da Terra; e, no Brasil, uma quadrilha que incluía adolescentes promoveu uma live em que se botou fogo num morador de rua, assistida por 120 pessoas.
Abaixo, os seis episódios desta sétima temporada, classificados do melhor para o pior, por critérios absolutamente pessoais.
EPISÓDIO 1: “PESSOAS COMUNS”
Quando uma professora sofre uma emergência que quase a mata, um novo programa que controla seu cérebro por um sistema de nuvem pode mantê-la viva, mas a um custo cada vez maior. É o episódio com mais cara de “Black Mirror”, criticando os altos preços dos planos de saúde, a publicidade sem freios do mundo digital e a ganância sem fim do mercado.
EPISÓDIO 5: “EULOGY”
Por um novo sistema, um homem solitário consegue entrar em fotografias do passado para relembrar o grande amor da sua vida. A história mais romântica e melancólica desta leva, com mais uma atuação primorosa de Paul Giamatti (“Os Rejeitados”).
EPISÓDIO 4: “BRINQUEDO”
É possível desenvolver verdadeiras formas de vida dentro de um videogame? Este é o episódio mais violento e “dark” da temporada, com um final de chutar o pau da barraca (no bom sentido).
EPISÓDIO 3: “HOTEL REVERIE”
A premissa é muito boa, uma mistura maluca do clássico “Casablanca” (1942) com “O Show de Truman” (1998). Por um novo sistema de realidade imersiva, uma atriz negra (Issa Rae, de “Barbie” e da série “Insecure”) consegue entrar na história de um filme clássico em preto-e-branco e tomar o lugar do galã branco estilo Humphrey Bogart. Com Emma Corrin, a princesa Diana jovem de “The Crown”.
EPISÓDIO 2: “BÊTE NOIRE”
Uma moça que trabalha numa empresa fabricante de doces começa a ter seu senso de realidade distorcido com a chegada de uma misteriosa colega dos tempos de colégio. Uma ideia muito interessante sobre rivalidade feminina, explorada em filmes como “Mulher Solteira Procura”, aqui vai se perdendo até o final completamente despirocado.
EPISÓDIO 6: “USS CALISTER: INFINITY”
No início, o espectador é surpreendido por um “Previously…” (No episódio anterior…). Trata-se de uma continuação do primeiro episódio da temporada 4, sobre pessoas clonadas e lançadas num game de exploração espacial que envolve vários planetas. Pode ser um prato cheio para fãs de games e de séries como “Star Trek”, mas é bem chato para quem não pertence a nenhum desses dois nichos –com direito a um vilão caricato e superficial. Nem a presença de Cristin Milioti (de “Pinguim”) e Jesse Plemons (“Guerra Civil”, “Assassinos da Lua das Flores”) salva o episódio, que ainda é o mais longo do lote (90 minutos).
“Black Mirror” – 7ª temporada
Todos os sete disponíveis já disponíveis na Netflix
Fonte ==> Folha SP