O Fluminense acabou por ser o derradeiro clube brasileiro a ser eliminado da Copa do Mundo.
Há quem tenha festejado a derrota de cabeça em pé, última moda da submissão nacional aos europeus, que, como se sabe, não têm necessariamente os melhores jogadores do Planeta Bola, embora tenham dinheiro a rodo para contratá-los.
Nem se trata de dizer que é impossível concorrer com o poderio do Real Madrid, embora a economia espanhola seja menor que a brasileira.
Ou que não dê para concorrer com os petrodólares da Arábia Saudita, assim como com os euros do Bayern de Munique ou com as libras esterlinas do Liverpool.
Porque não é de hoje que somos exportadores de pé de obra, como um dia fomos de matérias-primas em vez de vender produtos manufaturados ou como ainda somos de commodities.
Vendemos os artistas em vez do espetáculo há décadas.
Um dia, no longínquo ano de 1983, Zico, o maior ídolo do clube mais popular do Brasil, o Flamengo, foi negociado com a Udinese, que havia acabado de subir para a Série A italiana, sediada na cidade de Udine, então com população que cabia inteira no Maracanã.
Zico acabou vice-artilheiro do Campeonato Italiano em sua primeira temporada, apenas um gol a menos que Michel Platini, da poderosa Juventus, com menos jogos disputados que o craque francês.
Mais recentemente, em 2019, o Fluminense, de pires na mão, teve de vender João Pedro, para o Watford, da segunda divisão inglesa, cuja sede fica na cidade de mesmo nome, com 102 mil habitantes.
João Pedro, sabem a rara leitora e o raro leitor, marcou os dois gols que eliminaram o Fluminense.
Sim, é óbvio, o real perde para as moedas dos países citados, mas o problema maior está longe de ser esse.
O busílis está na comparação da gestão de clubes e campeonatos aqui e fora daqui.
Nem liga unificada de clubes nós temos, e nossos clubes vivem da mão para a boca. Alguns até conseguem vender bem, outros vendem diante da primeira oferta.
Vendas precipitadas, erros de avaliação técnica acontecem nas melhores famílias. Basta constatar o equívoco do Manchester City ao negociar, com o rival Chelsea, seu prata da casa Cole Palmer, então com 21 anos, em 2023.
Erro compensado por R$ 250 milhões pagos na transferência do jovem que desde os dez anos estava no City. Pep Guardiola deve viver arrependido por ter concordado.
Vinicius Junior, vendido em 2017, custou R$ 164 milhões e virou o melhor do mundo, segundo a Fifa.
Estêvão, é verdade, está no Chelsea por quase R$ 360 milhões.
Tudo bem, ou quase, quando se trata de potências como Real Madrid ou Chelsea ou Al Hilal.
Mas Udinese?! Watford?!!
É assim que Copas do Mundo são perdidas antes, muito antes de começarem.
Os dois gols de João Pedro, negociado por R$ 50 milhões, acrescidos por cerca de mais R$ 20 milhões com as duas transferências dele entre clubes na Inglaterra, resultaram na perda de R$ 165 milhões que o Fluminense receberia se chegasse à finalíssima. Subtraia 70 de 165.
Não há o que festejar.
Há que se chorar a derrota taxativa para o Chelsea e a perda de tamanha fortuna, quem sabe evitáveis caso João Pedro não tivesse ido jogar no Watford.
Aí, finalista da Copa do Mundo, eventualmente campeão, o Fluminense poderia vendê-lo para uma potência por R$ 500 milhões.
Fim.
Fonte ==> Folha SP