SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – O dólar fechou com uma queda de 0,61%, cotado a R$ 5,444, nesta terça-feira (8), com os investidores demonstrando um otimismo cauteloso após o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, estender o prazo para que os países fechem acordos comerciais com Washington até 1º de agosto.
A nova ameaça de Trump de cobrar mais tarifas de importação de países que compõem os Brics contribuiu para limitar uma queda mais acentuada da moeda nesta sessão.
A desvalorização do dólar frente ao real seguiu em linha com o exterior e reverteu parte dos ganhos da moeda norte-americana na véspera, quando encerrou com uma forte alta de 1%, a R$ 5,478. No ano, a divisa dos EUA acumula um recuo de 11,89% frente ao real.
Já a Bolsa perdeu 0,13%, a 139.302 pontos, com as ações da Weg entre os piores desempenhos, em meio a preocupações com um potencial aumento das tarifas de importação de cobre nos Estados Unidos.
Na perspectiva de Danilo Coelho, economista e especialista em investimentos CEA (Certificação de Especialista em Investimentos Anbima), o dólar está em um dos menores patamares do último ano e as oscilações negativas podem sinalizar mudanças importantes nos próximos meses com a proximidade do período pré-eleitoral.
“Estamos prestes a entrar em um período de maior incerteza, sobre quem serão os candidatos, quem pode ser eleito e qual será a política econômica adotada pelo próximo presidente. Isso leva os investidores a começarem a montar posições agora para tentar se beneficiar de um aumento do dólar nos próximos dois semestres”, afirmou.
Os movimentos do real nesta sessão tiveram como pano de fundo as mudanças anunciadas por Trump na política comercial dos EUA, sendo a principal delas a alteração do prazo para negociações tarifárias.
Segundo Trump, “nenhuma prorrogação será concedida”. A data anterior para as tratativas encerraria nesta quarta-feira, 9 de julho.
Os agentes do mercado avaliam que a abordagem dos EUA, apesar de agressiva e errática, não vai gerar uma guerra comercial total.
“Os investidores estão céticos quanto à possibilidade de realmente haver um aumento das tarifas de importação, ou pelo menos nessa magnitude, e que Trump deve estar blefando”, disse Leonel Mattos, analista de Inteligência de Mercado da StoneX.
“Trump estaria utilizando o tema das tarifas como um instrumento de negociação para pressionar outros países a fazerem acordos comerciais, mas que, no fundo, não teria a intenção de manter essas tarifas por muito mais tempo.”
As novas tarifas divulgadas na véspera são semelhantes às taxas do chamado Dia da Libertação que Trump anunciou em abril, e começariam em 25% para Japão, Coreia do Sul, Malásia, Cazaquistão e Tunísia, e chegariam a até 40% para Mianmar e Laos.
Enquanto isso, África do Sul, Bósnia, Indonésia, Bangladesh, Sérvia, Tailândia e Camboja enfrentariam tarifas entre 30% e 36%.
No início da tarde, Trump disse que está a dois dias de enviar uma carta à União Europeia divulgando as taxas que irá aplicar.
Além disso, o republicano afirmou que vai anunciar uma tarifa de 50% sobre importações de cobre. Na visão de analistas do UBS BB chefiados por Alberto Valerio, a notícia é negativa para a WEG, dada a exposição de cerca de 25% da companhia ao mercado norte-americano. Os papeis da empresa perderam 4,06%, a R$ 40,61.
Seguiu repercutindo nesta sessão a ameaça do presidente dos EUA de aplicar uma tarifa adicional de 10% a países que se alinharem ao Brics, que impulsionou a alta do dólar frente ao real na segunda e a outras divisas dos países integrantes do bloco.
Nesta terça, durante uma reunião com integrantes do gabinete na Casa Branca, Trump reforçou a ameaça contra o Brics, dizendo que os países receberão uma tarifa de 10% “muito em breve”. A fala do republicano freou uma queda mais acentuada do dólar nesta sessão.
Formado inicialmente por Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul, o bloco foi ampliado recentemente para 11 países e representa quase metade da população mundial e cerca de 40% do PIB (Produto Interno Bruto).
No domingo (6), em uma declaração conjunta na abertura da cúpula do Brics no Rio de Janeiro, o grupo alertou que o “aumento indiscriminado de tarifas” ameaça o comércio global. O Brasil é um dos membros fundadores do bloco.
Horas depois, em sua plataforma Truth Social, Trump prometeu impor uma tarifa adicional de 10% a países que se “alinhem” com o Brics.
“A qualquer país que se alinhe com as políticas antiamericanas dos Brics, será cobrada uma tarifa adicional de 10%. Não haverá exceções a esta política”, ameaçou Trump.
Em reação, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) criticou duramente as declarações do republicano, e classificou de “irresponsável” a postura de ameaçar países por redes sociais.
“Eu acho que nem deveria comentar, porque não é responsável e sério e um presidente da República, de um país do tamanho dos Estados Unidos, ficar ameaçando o mundo através da internet”, disse Lula.
“O mundo mudou, não queremos imperador. Somos países soberanos. Se ele acha que pode taxar, os países têm o direito de taxar também. Existe a lei da reciprocidade. Eu acho muito equivocado e muito irresponsável um presidente ficar ameaçando os outros em redes digitais”, afirmou.
A China também respondeu à ameaça de Trump ao Brics, dizendo que o bloco defende abertura, inclusão e cooperação, e não tem nenhum país como alvo.
Na cena doméstica, o mercado nacional repercutiu falas de autoridades.
O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, disse nesta terça-feira que as medidas do governo de ampliação de receita são focadas em combater privilégios, como o decreto que aumentou o IOF, que acabou derrubado pelo Congresso Nacional.
“Nós estamos, em relação à receita, combatendo privilégios, é isso que nós estamos fazendo, e no caso do IOF não é diferente”, disse.
“Eu tenho que defender a constitucionalidade do ato do presidente da República. E eu, como advogado, te digo com todas as letras, não existe nenhum vício de constitucionalidade na decisão tomada pelo presidente da República, zero.”
Haddad disse que deve se encontrar com o presidente da Câmara dos Deputados, Hugo Motta (Republicanos-PB), ainda nesta semana.
A crise do IOF começou em 11 de junho, quando o governo fez novas mudanças nas cobranças do imposto depois de uma série de reuniões que buscavam um acordo com os líderes no Congresso.
Antes mesmo de o texto chegar ao Congresso, o pacote já estava sob ataque. Na quarta-feira, 25 de junho, veio a derrota da gestão petista: a Câmara e o Senado derrubaram as medidas.
Na última sexta-feira, o ministro Alexandre de Moraes, do STF, suspendeu os decretos presidenciais que aumentaram o IOF e também o decreto legislativo que barrou os reajustes.
Moraes determinou uma audiência de conciliação entre os chefes dos três Poderes para o dia 15 de julho, no Supremo, e a decisão vale até nova análise da Corte.
Já o presidente do Banco Central, Gabriel Galípolo, reforçou a intenção da autarquia de buscar a meta contínua de 3% de inflação durante um almoço com parlamentares da FPE (Frente Parlamentar Mista do Empreendedorismo) e associados do IUB (Instituto Unidos Brasil), em Brasília.
Galípolo disse ter consciência de que o Copom (Comitê de Política Monetária) do BC não receberá um prêmio de “Miss Simpatia” ao colocar a taxa Selic em 15%, mas afirmou estar tranquilo por estar perseguindo a meta.
Na frente de dados, o mercado repercute as vendas no varejo brasileiro, que recuaram 0,2% em maio na comparação com o mês anterior e subiram 2,1% sobre um ano antes, informou o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), em resultado abaixo do esperado por economistas consultados pela Reuters.
Fonte ==> Gazeta do Povo e Notícias ao Minuto