É exasperante a falta de notícias por parte do governo brasileiro sobre qualquer avanço nas negociações diplomáticas e comerciais com os Estados Unidos a fim de mitigar os efeitos do tarifaço de 50% prometido por Donald Trump contra o país, programado para entrar em vigor a partir de 1º de agosto.
Enquanto o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) procura faturar politicamente com a ameaça do americano, malhando adversários bolsonaristas, vários setores da economia já colhem os prejuízos ou fazem as contas do que têm a perder. E não é pouco.
No segmento de carnes, o volume de vendas para os EUA em julho está 80% menor do que em abril. Embarques de frutas e pescados também foram cancelados, e, segundo levantamento realizado pela Folha, há 30 setores que direcionam pelo menos um quarto de suas exportações para os EUA, num total de US$ 20,3 bilhões no ano passado.
Segundo dados da Câmara Americana de Comércio para o Brasil, os EUA recebem produtos de 9.500 empresas brasileiras. Levantamento da Moody’s Analytics mostra que o país ocupa o 13º lugar no ranking de países com mais subsidiárias de empresas americanas no mundo —4.686 companhias, número superior ao do México.
Os dados revelam uma robusta e longeva relação comercial entre as duas nações e o estrago que o aumento nas tarifas poderá causar. Certamente mais ao Brasil, no entanto com potencial para afetar também empreendimentos americanos, além de pressionar a inflação nos EUA.
A negociação oficial deveria, portanto, se basear nessas evidências, emulando o que alguns setores da economia e empresas específicas em ambos os países vêm tentando fazer.
Na segunda (21), enquanto Lula declarou que uma “guerra tarifária [com os EUA] vai começar na hora em que eu der uma resposta ao Trump”, sua equipe econômica passou a considerar possíveis ações para socorrer atividades que podem vir a ser mais impactadas pelas tarifas.
Uma das ideias é instituir um fundo capitalizado pelo Tesouro Nacional, por meio de créditos extraordinários, o que deixaria esse tipo de dispêndio fora das regras do arcabouço fiscal. Não seria a primeira vez que o governo tenta utilizar esse subterfúgio para expandir gastos, mesmo que haja motivos para isso.
O fato de essa nova despesa, se autorizada, não impactar a meta fiscal de 2025 não significa que deixará de aumentar ainda mais a já elevada dívida pública, maior indicador de solvência do país.
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Fonte ==> Folha SP