São Paulo
Quase uma década separa “Êta Mundo Bom” (2016) de “Êta Mundo Melhor”, continuação da novela criada por Walcyr Carrasco que atualmente ocupa a faixa das seis na Globo. Nesse período, muita coisa mudou —tanto na vida da personagem Dita, que voltou como uma das protagonistas da nova trama, como na de Jeniffer Nascimento, sua intérprete.
No ar desde 30 de junho, o novo folhetim resgata o clima do original enquanto atualiza discursos e papéis. “É a primeira vez que faço um projeto com continuação. No início foi desafiador, mas quando reencontrei a Dita, percebi que ela sempre esteve dentro de mim”, conta Jeniffer ao F5.
A atriz explica que o processo de redescobrir a personagem passou pelo olhar da mulher que ela se tornou ao longo dos últimos anos. “A Dita foi responsável por muitas estreias na minha carreira. Foi com ela que me casei em cena pela primeira vez, que fiz um parto”, afirma. “Hoje, volto já tendo vivido tudo isso fora da ficção. A troca é muito mais rica.”
“Agora não é só ela que me ensina —eu também ensino à Dita”, destaca. “A Dita cresceu. E eu cresci com ela.”
A maternidade, segundo a atriz, foi o principal motor de sua transformação pessoal. Mãe de uma menina, Jeniffer acredita que sua relação com a arte mudou depois de dar à luz. “Depois que me tornei mãe, me considero uma atriz melhor. A maternidade te dá um nível de empatia que é muito profundo, uma capacidade de sentir o outro que só quem vive entende”, avalia. “Isso se reflete diretamente no meu trabalho.”
Para acompanhar todos os marcos da primeira infância, a atriz diz que ficou sem trabalhar fora de casa e diz que viveu intensamente o primeiro ano da filha. “Eu dizia que só começaria a gravar tranquila depois de vê-la andando. E uma semana antes de começar a novela, ela andou”, celebra. “Foi como se tivesse me dado um sinal de que eu podia seguir.”
A nova rotina, claro, exige mais organização —mas Jeniffer conta com uma rede de apoio familiar. “Às vezes, saio para gravar e ela está dormindo. Quando volto, também está. Mas tenho meus pais comigo, o que me dá segurança. Quando seu filho está bem cuidado, com quem você confia, você consegue focar 100% no trabalho.”
Na primeira novela, Dita era uma empregada dedicada e discreta, quase sempre à sombra de outras figuras que povoavam aquele universo. Agora, a personagem se mudou para a cidade grande para perseguir o sonho de se tornar cantora. “É muito significativo voltar como protagonista, ainda mais numa novela de época, um espaço onde as mulheres pretas quase nunca têm destaque”, diz a atriz.
“A presença de mulheres pretas protagonizando histórias é uma conquista coletiva”, prossegue, destacando ainda as colegas que estão em posições centrais em outras novelas. “A gente precisa se ver nas telas, precisa ocupar todos os espaços. Isso transforma não só a nossa autoestima, mas também o imaginário do público.”
Fonte ==> Folha SP