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O tripé do sistema elétrico – 08/07/2025 – Jerson Kelman

A imagem mostra várias torres de transmissão de energia elétrica em uma área rural. As torres estão alinhadas em uma linha, com fios de alta tensão se estendendo entre elas. Ao fundo, há uma paisagem verde com árvores e uma pequena área urbana visível. O céu está claro, indicando um dia ensolarado.

O setor energético brasileiro como um todo é responsável por 18% da emissão de gases de efeito estufa, enquanto a média mundial é de 73%. A produção de eletricidade no Brasil é responsável por menos de 3% das emissões totais, enquanto a média mundial é de 30%. Temos fartura de fontes renováveis —água, luz, vento e biomassa— utilizadas para gerar quase 90% de toda a eletricidade produzida no país.

Estamos bem posicionados para atrair atividades econômicas que valorizem a baixa pegada de carbono. Desde, é claro, que se viabilizem por seus próprios méritos e não por subsídios que encareçam a conta de luz da dona Maria.

O setor elétrico de qualquer país estará equilibrado se conseguir se apoiar num tripé: (1) confiabilidade de atendimento; (2) modicidade tarifária; (3) baixa emissão de gases de efeito estufa. Se tiver fartura de combustíveis fósseis, terá facilidade em se apoiar nas pernas (1 e 2), mas não estará estável devido à ausência da perna (3). Já um país que faça investimentos apenas em geração intermitente —solar e eólica — para reforçar a perna (3), se desequilibrará devido ao enfraquecimento da perna (1).

Esse é o caso do Brasil. Aqui as fontes solar e eólica têm sido “anabolizadas” por subsídios pagos pelos próprios consumidores, sem aporte dos contribuintes, incluídos em leis que pretensamente defendem políticas voltadas à mitigação climática. Porém, nem tudo que parece verde é de fato verde. A maior parte do subsídio total, em valor equivalente às emendas parlamentares —cerca de R$ 50 bilhões por ano— serve apenas como canal invisível por onde a desigualdade social se aprofunda.

Parlamentares que nada entendem do assunto contrariam o planejamento técnico, dando desnecessárias vantagens aos lobbies mais convincentes, sem a mínima consideração sobre as reais necessidades sistêmicas. Como resultado, sobra energia em algumas horas do dia e falta em outras. Aumenta a probabilidade de apagões e aumenta a conta de luz da dona Maria. Um desastre!

Um exemplo é o Proinfa (Programa de Incentivo às Fontes Alternativas de Energia Elétrica), criado em 2002 para promover a inserção das fontes renováveis, que na época eram caras, na matriz energética. Hoje são baratas e o programa não faz mais sentido. A recente decisão do Congresso de renovar o Proinfa, no âmbito dos vetos à lei de eólicas offshore, fará com que os consumidores paguem mais pela eletricidade do que seria possível em um mercado mais competitivo e transparente.

Enquanto a narrativa celebra inovação e crescimento verde, a realidade revela que a conta de luz encarece, agravando vulnerabilidades sociais. Políticas públicas dessa natureza não apenas falham em seus objetivos ambientais de longo prazo, como minam a confiança na causa climática. Ao instrumentalizá-la como ferramenta de enriquecimento de uma minoria, correm o risco de transformar a sustentabilidade em sinônimo de privilégio.

O setor elétrico brasileiro teria condições de se apoiar num forte e estável tripé. Para isso, seria preciso que o Congresso tivesse o bom senso de não se imiscuir em temas técnicos. Afinal, o país tem instituições e recursos humanos capacitados para fazer esse trabalho.

Para efetuar essa mudança seria necessário melhorar a governança do país como um todo, não apenas do setor elétrico. Tarefa difícil, mas não impossível.



Fonte ==> Folha SP

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