Psiquiatras fazem uma festa quando, mesmo que em camisa de força e acorrentado, um bolsonarista lhes cai às mãos. O bolsonarista típico —todo bolsonarista é típico— é portador de uma antologia de transtornos de personalidade, incluindo delírios (crenças falsas e fixas sem base na realidade), alucinações (a sensação de ele ou um dos seus estar sendo perseguido) e grave confusão mental (dificuldade em organizar os pensamentos, resultando em falas confusas ou desconexas). Um dos problemas do bolsonarista está no conceito de ditadura.
Por um lado, ele acusa o STF de estar impondo uma ditadura no Brasil ao condenar senhoras patuscas, pichadoras de batom e patriotas armados com barras de ferro a 17 anos de prisão e ameaçando dar 40 para inocentes generais golpistas e seu líder Bolsonaro. Por outro, referem-se com saudade à extinta ditadura militar, que, segundo o mesmo Bolsonaro, só errou por não matar 30 mil brasileiros em vez de torturá-los, embora uma de suas admirações seja o torturador Brilhante Ustra. Afinal, em que ficamos? O bolsonarista é contra ou a favor das ditaduras?
Depende da ditadura. A do STF é um suplício em que o acusado —digamos Bolsonaro— responde em liberdade e cercado de advogados a uma série de investigações e interrogatórios, tendo até o direito de ficar calado. Denunciado pela PGR, é submetido a um longo processo criminal composto de declarações de testemunhas, todas que ele puder arrolar. Tornado réu, ele pode apresentar requerimentos complementares, solicitar novas diligências e, como a apoteose no teatro, expor suas considerações finais. É uma tortura que se arrasta por até dois anos, acompanhada passo a passo pela TV. Por fim, se for condenado, sempre poderá beneficiar-se da prisão domiciliar e dormir de pijama em seu lar.
A ditadura militar era mais rápida. O sujeito se apresentava para depor ou era apanhado em casa. Metiam-lhe um capuz e ele desaparecia ou era suicidado num porão a poder de tortura.
Sem a intricada burocracia do STF.
Fonte ==> Folha SP