Costuma acontecer tudo junto. Num daqueles alinhamentos inevitáveis, mas para os quais fazemos vista grossa —feito alguém que se descobre presbíope e hipertenso durante o mesmo check-up. Dolorosamente encaminhado a um, bem… A um geriatra.
“Peraí, você tá me confundindo. Meu guarda-roupa só tem camiseta de banda indie. Comprei ingresso pra nova turnê do Oasis. Não acredita em mim? Aqui o meu boné: eu só uso virado pra trás. Sou pós-jovem!”
Arrã, tá. Minha ficha caiu —até porque eu já habitava este planeta quando as fichas daquilo que os pré-internautas chamavam de “orelhão” caíam— no último fim de semana.
Descendo para atender o entregador de farmácia que trazia, feito oferenda de rei mago, não ouro, incenso ou mirra, mas analgésico, relaxante muscular e uma bolsa de água quente para aplacar minha primeira dor nas juntas. Ziquizira inaugural que contém a promessa de outras.
Passa cartão aqui, reclama do sistema fora do ar ali, fiz um Pix na esperança de que nada mais piorasse aquela edição entrevada de mim mesma. Sonhando com o regresso à cama quentinha quando, justamente nessa contradança entre dor e promessa de alívio, uma mensagem alarmante piscou no meu celular: o convite para o aniversário de uma amiga dez anos mais nova.
“Você foi convocada para a festa Young Idosos. Pensando na galera 30+, ela irá das 21h às 2h da manhã, pois ninguém tem mais idade para after. Lado bom: terá distribuição de sopa de ervilha no final, para manter o pique ‘geriátrico-cozy’.”
Era só o que faltava. Para além das hérnias —tanto lombar quanto cervical— e da minha geração pagando de novinha, agora temos que aturar essa apropriação da meia-idade por quem ninava tamagotchis cantarolando Spice Girls? Degenerados que capturavam pokémons quando Cauã Reymond era o galã da “Malhação“? Nã-nã-ni-nã-não. Se for para apostar corrida e ver quem sai levando um casaquinho antes, claro que vou ganhar. Cheguei na jovelhice primeiro.
Sou do tipo que ainda chama ensino médio de “segundo grau” e não decora as regras ortográficas em vigor há mais de 15 anos. Num “mood” bem tia-avó do futuro, já compro lembrancinhas—em geral, meias e moringas— para ter à mão em caso de necessidade.
Ou seja: cuidado com a minha patota pós-jovem, pirralhos idosos. Se o tempo não virar e atacar nossa bursite, vamos acabar com vocês! Mas tem como descolar uma cumbuca dessa sopinha aí? Tá com muito sal.
Fonte ==> Folha SP