Na segunda metade da década passada, o petismo atravessou uma crise avassaladora. A presidente Dilma Rousseff foi deposta por impeachment, e representantes do partido, inclusive o seu líder máximo, Luiz Inácio Lula da Silva, foram processados, condenados, declarados inelegíveis e presos.
A ofensiva judicial e as suas repercussões reputacionais, no entanto, não foram capazes de prejudicar a popularidade de Lula a ponto de anular a sua competitividade eleitoral. Em 2018, mesmo preso, o seu ungido, Fernando Haddad, chegou ao segundo turno e recebeu 45% dos votos.
Quatro anos depois, reabilitado pela Justiça, o próprio ex-presidente obteve o terceiro mandato numa disputa apertada.
Um processo semelhante ocorre com Jair Bolsonaro (PL). Em 2023, o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) tornou-o inelegível por ter abusado do poder da Presidência enquanto era candidato à reeleição. Agora o ex-mandatário responde a uma ação penal que pode condená-lo à prisão por atentado à democracia.
Entretanto os reveses que Bolsonaro acumula nos tribunais igualmente não parecem abalar o seu cacife popular.
A rodada mais recente de pesquisas do Datafolha mostra o ex-presidente, apesar de inelegível, empatado com Lula na simulação de segundo turno. Só o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), iguala o desempenho de Jair Bolsonaro entre os possíveis adversários do petista no ano que vem.
Além disso, a simpatia pelo bolsonarismo atingiu o maior nível desde o final de 2022. Hoje, 35% dos eleitores consideram-se próximos da corrente encabeçada pelo ex-presidente, alta de 4 pontos percentuais em relação a abril. Já a inclinação ao petismo caiu outros 4 pontos percentuais e chegou aos mesmos 35%.
Não espanta, nesse contexto, que o senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ), em entrevista à Folha, comece a dar recados em nome do pai para os candidatos que desejem o apoio de Jair no pleito de 2026. Prometer o indulto, caso ele seja condenado, será condição para o endosso —e já é antecipado e cobrado, em termos temerários, um conflito com o Supremo Tribunal Federal (STF).
Ao menos quatro governadores são candidatos em potencial a herdar os votos bolsonaristas: Tarcísio Freitas (Republicanos), de São Paulo, Romeu Zema (Novo), de Minas Gerais, Ronaldo Caiado (União Brasil), de Goiás, e Ratinho Júnior (PSD), do Paraná.
Nenhum deles reproduz, em sua conduta política, o discurso antidemocrático e os conflitos institucionais que caracterizam o pior do bolsonarismo. Ainda assim, tendem a assumir compromissos com o ex-presidente em nome de sua viabilidade eleitoral.
Ao mesmo tempo, interessa à direita nacional distanciar-se de tais cacoetes autoritários em busca de conquistar os eleitores moderados que podem decidir o pleito. Essa é uma tarefa complexa a ser conduzida até 2026.
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Fonte ==> Folha SP