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O mundo nunca teve tantas pessoas refugiadas, e vai piorar – 22/06/2025 – Bianca Santana

A imagem mostra uma cena de distribuição de alimentos em uma comunidade. Um homem, usando uma camiseta preta e um lenço verde na cabeça, carrega sacos de alimentos nas costas. Ele está cercado por uma multidão de pessoas, muitas das quais seguram guarda-chuvas coloridos. As pessoas na multidão parecem estar atentas e algumas estão sentadas no chão, enquanto outras estão em pé. O ambiente é ao ar livre, com um céu nublado ao fundo.

Hortense Mbuyi viria ao Brasil, em 2014, com o marido e o filho mais novo para assistir à Copa do Mundo. Tinham passagens compradas e muitos planos quando a instabilidade política se intensificou na República Democrática do Congo. Grupos armados ganharam força, assim como as operações do governo contra as milícias.

“São mais de 30 anos de traumas no país”, explica Hortense. “Mas naquele momento a situação piorou muito. Meus companheiros foram assassinados a bala por denunciarem a falta de democracia.” Ameaçadas, mais de 20 mil pessoas foram obrigadas a se deslocar.

Defensora de direitos humanos e dos direitos das mulheres, advogada especialista em direito econômico e social, Hortense passou a ser perseguida. Ela era membro da UDPS (União Pela Democracia e Pelo Progresso Social), oposição. Foi presa com o filho de dois meses, perdeu o contato com o marido e as filhas mais velhas, de 2 e 4 anos, adoeceu.

Ao sair da prisão, decidiu utilizar as passagens já compradas para deixar o país em busca de tratamento médico. “Desembarquei em Guarulhos com um bebê de sete meses nas costas, sem falar nem entender uma única palavra da língua portuguesa. Não conhecia ninguém, não sabia onde ia ficar”, conta Hortense, que não recebeu nenhum apoio do governo ou de organizações brasileiras.

“A solidariedade a imigrantes está baseada em recortes raciais, regionais, culturais e religiosos. Sou mulher, mãe e preta, não sou desejável nessa migração seletiva”, afirma Hortense. Em 2015, ela solicitou refúgio ao Estado brasileiro e foi atendida.

Sem poder exercer a advocacia, passou a cozinhar. Com o tempo, aproximou-se da Marcha das Mulheres Negras de SP, espaço definido por ela como de resistência e articulação importante. “Hoje sou estudante de mestrado na USP, idealizadora do espaço Wema, empreendimento com foco na promoção da cultura africana.” O marido de Hortense chegou ao Brasil, onde se reencontraram. Mas suas filhas, pai, mãe e irmãos continuam no Congo.

Segundo o relatório “Refúgio em Números”, produzido pelo Comitê Nacional para Refugiados, entre 2015 e 2024, o Brasil recebeu 454.165 pedidos de refúgio de pessoas vindas de 175 países. No final de 2024, 156.612 pessoas estavam aqui na condição de refugiadas.

O Brasil, embora legalmente comprometido com o acolhimento a pessoas refugiadas, ainda carece de políticas públicas estruturadas para oferecer suporte efetivo a quem busca proteção. São comuns os relatos como o de Hortense, de falta de orientação, barreiras burocráticas para revalidação profissional, dificuldade de acesso a direitos.

Em todo o mundo, de acordo com a agência da ONU para refugiados (Acnur), havia 43,7 milhões de pessoas refugiadas em junho de 2024. Pessoas buscando sobreviver à guerra, às perseguições políticas, conflitos armados e violações de direitos humanos.

O 20 de junho, Dia Mundial do Refugiado, é uma data importante para demonstrar solidariedade a quem precisou deixar o país e a família contra a própria vontade. Neste 2025, precisamos falar especialmente sobre o crescimento do número de pessoas deslocadas forçadamente do Sudão, da Síria, do Afeganistão, da Ucrânia, da Palestina.

Se nos últimos dez anos o número de refugiados praticamente dobrou, as notícias que chegam do Oriente Médio indicam que a situação vai piorar.



Fonte ==> Folha SP

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