A dívida pública brasileira alcançou 89% do PIB e já é a maior entre os países emergentes sob acompanhamento do Fundo Monetário Internacional (FMI), ficando atrás apenas da China. O avanço rápido do endividamento, segundo um relatório do Instituto de Finanças Internacionais (IIF), reforça a preocupação com a capacidade do país de atrair investidores em um cenário global de riscos crescentes e juros mais altos.
A escalada da dívida ocorre em um momento em que o mundo inteiro volta a se aproximar do patamar crítico de 100% do PIB global, reacendendo o alerta que marcou o período pós-pandemia. De acordo com dados internacionais, governantes têm recorrido a prazos mais curtos para rolar títulos públicos, tentando pagar menos juros no curto prazo, mas se expondo ainda mais a mudanças bruscas do mercado.
O endividamento global atingiu US$ 101,3 trilhões no segundo trimestre, um salto de 9% em apenas um ano, segundo levantamento do IIF que reúne 400 de instituições financeiras. O avanço entre os emergentes (média de 72,7% do PIB) é puxado ainda pela China (93,4%), Índia (80,2%) e Argentina (75,2%).
Na América Latina, a média de endividamento é de 67,9% do PIB.
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Esse movimento amplia a pressão sobre países emergentes, que precisam oferecer juros maiores para competir com economias consideradas mais seguras. No Brasil, a situação é agravada por um aumento superior a 6 pontos percentuais na dívida pública em pouco mais de dois anos e meio, com projeções que apontam para alta de até 9 pontos ao fim de 2026.
No Brasil, a metodologia internacional calcula a dívida incluindo títulos na carteira do Banco Central, o que eleva o indicador a 89% do PIB; já o critério doméstico aponta 78,1% do PIB em setembro. A diferença metodológica não reduz a preocupação central: o país opera com déficit persistente, impulsionado por políticas de aumento de gastos para sustentar a atividade econômica.
“Não há sinais de reversão significativa na tendência de alta do endividamento. Muitos países continuam operando com déficits fiscais persistentes”, afirma Marcello Estevão, diretor-gerente e economista-chefe do IIF em entrevista à Folha de S. Paulo.
Ainda segundo Estevão, o Brasil precisa de um ajuste fiscal para aliviar a pressão de demanda agregada nos níveis de preços. “Uma dinâmica ruim da dívida pública implica um prêmio de risco mais elevado para que os compradores de dívida aceitem comprá-la”, completou.
Esse cenário se repete em outras nações, que acumulam déficits devido a despesas crescentes com saúde, envelhecimento populacional e investimentos em defesa. O Japão, por exemplo, alcançará uma dívida pública de 214% do PIB, seguido pelos Estados Unidos (119,3%) e a Zona do Euro (91,4%). A média entre os países desenvolvidos chega a 112,5%.
O FMI projeta que, em um cenário adverso, a dívida pública global pode alcançar 117% do PIB em 2027, o maior nível desde o pós-Segunda Guerra. Embora não existam séries históricas completas, estimativas apontam que o mundo chegou a 132% do PIB em 1948, refletindo o custo econômico do conflito.
Fonte ==> UOL