Ouço dizer que filmes recentes, como “Frankenstein”, de Guillermo del Toro, até que enfim estão enxergando o lado humano dos monstros do cinema. Folgo em saber e só lamento que tenha demorado tanto. Há anos, em já incontáveis artigos, insisto em afirmar que no peito da Múmia, do Lobisomem e de Frankenstein também bate um coração.
A Múmia era originalmente um egípcio apaixonado por uma garota cujo pai a prometera ao faraó. A menina se via muito mais nos braços do rapaz do que nos do faraó, que, apesar de faraó, era quase uma múmia viva. O pai não quis correr riscos e providenciou a eliminação do jovem. Morto e mumificado, este passou os 4.000 anos seguintes quieto em sua tumba no Egito, até que, por volta de 1922, arqueólogos ingleses a descobriram e violaram.
Foi uma imprudência. Assim que aberto o sarcófago, dois ou três dos arqueólogos tombaram mortos pelo bafo da Múmia. Os sobreviventes a levaram para o Museu Britânico, em Londres, onde, por artes do sobrenatural, ela ressuscitou e saiu em busca da sua bem-amada, reencarnada, veja só, numa inglesa. Mas Londres não estava preparada para receber em seus salões uma Múmia em tiras milenares e imundas, donde ela foi perseguida e, para se defender, começou a matar. Que culpa tinha?
Com o Lobisomem, a mesma coisa. Um aristocrata inglês tem a fatalidade de ser mordido por um lobo numa noite de Lua cheia e, quando essa Lua se repete, ele se transforma num homem-lobo que estraçalha a dentadas os incautos passando pela floresta. Nos filmes, ao morrer a tiros, o Lobisomem reverte ao formato humano. Sempre torci para que, nesse momento, ele fosse mostrado vertendo uma lágrima, símbolo de seu infeliz destino. Mas, até hoje, nunca. Vamos ver agora.
Por fim, o pobre Frankenstein. Construído com restos de cadáveres por um cientista irresponsável, como ele podia ser recebido em sociedade? Por falta de espaço, deixo para outra ocasião a alta conta em que também tenho o Médico e o Monstro, Drácula e o querido Godzilla.
Fonte ==> Folha SP