Ele é um conhecido de longa data dos paulistanos, em especial por causa dos retratos que fez hoje estampados nas vidraças da estação Sumaré do metrô e na fachada da Biblioteca Mário de Andrade, mas Alex Flemming quer ficar ainda mais perto.

O artista radicado há mais de três décadas em Berlim, mas que nunca deixou de manter um apartamento-ateliê nos arredores da avenida Paulista, anuncia que em breve vai se mudar de volta a São Paulo, o centro nevrálgico do Brasil, mas não sem antes registrar suas andanças por todo o país. Seu relato —literal— do Oiapoque ao Chuí, passando por Canudos, cruzando o cerrado, desbravando o sertão baiano, os miolos de Minas Gerais até chegar à fronteira com o Uruguai, vai sair em livro.

É uma obra escrita, ele conta, sem nenhuma imagem, só suas palavras de estupefação, deslumbramento e alguma indignação diante de paisagens e situações que descortinam o olhar de um estrangeiro na própria casa, um reencontro lancinante com a pátria deixada para trás que agora tanto encanta quanto causa repulsa. “Não queria morrer no Brasil, ainda quero viver no Brasil, e agora nos meus 70 anos, se eu não voltasse agora, voltaria para morrer”, ele conta, numa noite fria do inverno paulistano.

Flemming, um grande retratista, nunca deixou de tratar da errância em suas obras. Já fez instalações cheias de maletas de viagem e, numa de suas séries de trabalhos mais célebres, estampou mapas de lugares em guerra, territórios conflagrados, sobre o corpo esculpido em academias de homens trincados. O artista orquestrava um contraste entre o mapa da guerra e o espaço do desejo, como guerra e tesão podem se fundir de maneira involuntária.

Seu mais novo trabalho, o livro, que deve sair sem imagens, uma surpresa para seu público, está em negociação com uma editora. Nada impede que os rumos dessa viagem possam mudar, mas Flemming, pela primeira vez, quer contar toda a história só com as próprias palavras.

MOSTRA SECRETA É uma ocasião curiosa. Ricardo Ribenboim, mais conhecido como um dos maiores produtores de exposições do país, é também um artista dedicado. Ele mostra agora, só aos mais chegados, uma série de esculturas de metal e madeira, além de pinturas em grande escala.

O cenário é deslumbrante. Os trabalhos se espalham pela Casa Gerassi, obra do modernista Paulo Mendes da Rocha da década de 1990. É uma construção de concreto, como não poderia deixar de ser, no bairro paulistano de Alto de Pinheiros. As esculturas de Ribenboim, hastes de metal acopladas a serpentes de madeira, estão bem à vontade no entorno da piscina e sob as claraboias que iluminam o salão principal.

Ribenboim, além da mostra secreta agora em São Paulo, terá uma obra importante de sua trajetória na mostra de Claudia Andujar, em julho, no Museu do Amanhã, no Rio de Janeiro, e se prepara para uma mostra no ano que vem no Espace Frans Krajcberg, em Paris.

ARTE NO PARQUE Numa celebração dos dois séculos do parque da Luz, o pequeno pulmão verde no coração do centro paulistano, a 14ª edição da Mostra 3M de Arte reúne uma série de artistas. São eles Ayrson Heráclito, Leandra Espírito Santo, Leandro Lima, Lícida Vidal, Lídia Lisboa, Luiz Zerbini e Rafa BQueer. A organização é de Ana Carolina Ralston.

DA ARTE E DAS JOIAS Em parceria com a joalheria Vivara, uma série de artistas ocupa o Solar Fábio Prado, o antigo Museu da Casa Brasileira, até agora sem teto em São Paulo desde o seu despejo do mesmo endereço. No fim deste mês, obras de Amelia Toledo, Kássia Borges, Laura Vinci, Lídia Lisboa, Mavi Moraes, Nádia Taquary, Rebeca Carapiá, Transälien e Yohana Oizumi passam a ocupar o espaço. Lisboa, Taquary e Carapiá, aliás, estarão na próxima Bienal de São Paulo, que começa em setembro.