O terceiro mandato é marcado pela escolha do presidente Lula de inverter o ciclo política da despesa pública. Contrariando Maquiavel, resolveu pisar no acelerador do gasto no primeiro ano de governo. Colheu a economia a pleno emprego e inflação acelerando no meio do mandato.
Há uns dois meses tudo se caminhava para que o presidente enfrentasse uma conjuntura econômica muito difícil no período eleitoral. Inflação na casa a 6% e déficit externo acima de 3% do PIB.
No entanto, e com muita dificuldade, o ministro Haddad tem conseguido reduzir a taxa de crescimento do gasto primário: de 9,3% real em 2023, para 3,6% em 2024 e, provavelmente, 1,4% em 2025.
Mesmo com todos os botões que têm sido apertados —novo consignado para trabalhadores celetistas, a elevação da tabela de isenção do IRPF a vigorar já em 2026, um possível aumento do benefício do programa Bolsa Família em 2026, entre outros—, o espaço para estimular a economia é menor do que o do ciclo 2013/2014.
Há sinais de que os componentes cíclicos da economia já estão cedendo. A política monetária está começando a se fazer sentir.
A boa safra agrícola tem segurado a inflação e, com ajuda da indústria extrativa mineral —as exportações de minério de ferro e petróleo têm ido bastante bem—, tem garantido uma boa balança comercial, que ajuda a sustentar o câmbio.
O choque tarifário de Trump deve ser desinflacionário. O câmbio tem ajudado. Tudo indica que a inflação será de 5,3% em 2025 e 4,5% em 2026.
Folha Mercado
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Adicionalmente, os primeiros sinais são de que a safra 2025/2026 será até melhor do que a de 2024/2025: evento raro em que uma safra espetacular é sucedida por outra que apresenta crescimento positivo. Se se confirmar a boa safra, a inflação de alimentos em 2026 será mais próxima de 4% do que de 5%.
Tudo somado, caminhamos para um cenário de pouso suave da economia brasileira, com crescimento na casa de 2% em 2025 e 1,5% em 2026. O mercado de trabalho deve piorar um pouco, mas não o suficiente para machucar muito a popularidade do presidente.
Se não houver muito rebuliço e o câmbio não se desvalorizar muito, Lula chegará a outubro de 2026 com a economia em boa forma, apesar dos desequilíbrios. Será parecido com 2014. Será o suficiente para ter um quarto mandato? Não tenho a menor ideia. Tema para os articulistas do caderno de política.
Dois são os riscos para o presidente. Primeiro, as pequenas e médias empresas não aguentarem o longo ciclo de juros elevados. A consequência seria uma reversão cíclica mais abrupta da economia antes da eleição.
Estudo do professor Carlos Rocca, da Fipe da FEA-USP, indica que, no final de 2025, somente 48% das empresas abertas terão retorno sobre o capital investido (ROIC) superior ao custo de dívida. No final de 2024, 58% tinham ROIC superior ao custo da dívida. A escolha de Lula alonga muito o ciclo monetário e pesa no balanço das empresas.
O segundo risco é a execução fiscal dos estados elevar muito os investimentos públicos no atual ciclo eleitoral. Os estados saíram da pandemia com muito dinheiro em caixa. Algo próximo de 2% do PIB.
No ciclo eleitoral anterior —2021 e 2022—, o caixa não foi usado, provavelmente em função da ausência de projetos. Talvez no ciclo atual o caixa seja usado e tenhamos um impulso fiscal vindo dos estados bem maior do que o projetado. Pressionaria a inflação e os juros.
Fonte ==> Folha SP