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Como empresas se adaptam ao impacto

Como empresas se adaptam ao impacto

A imposição de tarifas pelos EUA às importações do Brasil, embora parcialmente abrandada por uma lista que incluiu mais de 600 produtos, provocou um tremor imediato na economia nacional. O resultado foi uma saída significativa de capital e uma mudança notável no sentimento dos investidores, forçando empresas a rever completamente suas estratégias para o mercado norte-americano – segundo maior destino das exportações brasileiras e principal mercado para a indústria de transformação.

O “tarifaço” foi anunciado pelo presidente Donald Trump no início de julho e entrou em vigor no dia 6, uma semana após ser divulgada uma lista de exceções. O estabelecimento do adicional de 40% baseou-se em uma combinação de justificativas políticas e comerciais.

Produtos estratégicos para os Estados Unidos, como petróleo, suco de laranja e aeronaves, foram incluídos na lista. Mesmo assim, a tarifa efetiva média sobre produtos brasileiros deve subir para 30,9%, ante 1,3% em 2024, de acordo com cálculos do BTG Pactual.

O impacto real das tarifas dos EUA no Brasil

Os efeitos diretos das tarifas dos EUA no Brasil são limitados, mas não desprezíveis. A XP calcula uma redução de 0,15 ponto percentual no crescimento do PIB neste ano.

Já estudo do Núcleo de Estudos em Modelagem Econômica e Ambiental Aplicada (Nema) da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) sinaliza perda entre 0,1 e 0,26 ponto percentual do PIB, dependendo do efeito da efetivação das tarifas americanas sobre outros países e de uma eventual retaliação chinesa.

Distribuição regional dos efeitos entre os estados

A análise regional revela que as consequências não se distribuem uniformemente pelo território nacional. As tarifas atingem com mais força os estados do Sudeste e Sul, segundo estudo atualizado no início do mês pelo Nema. Os estados que enfrentam os maiores efeitos negativos são:

  • São Paulo: R$ 11,3 bilhões
  • Rio Grande do Sul: R$ 4 bilhões
  • Rio de Janeiro: R$ 3,2 bilhões
  • Minas Gerais: R$ 1,6 bilhão
  • Bahia: R$ 1,4 bilhão
  • Paraná: R$ 1 bilhão

Estratégias de adaptação: a resposta do setor privado

Diante desse cenário desafiador, diferentes segmentos da economia brasileira estão adotando estratégias específicas para contornar as barreiras tarifárias. O agronegócio emerge como um dos setores mais vulneráveis, com as exportações de carne bovina para os Estados Unidos sendo “praticamente inviabilizadas” devido à tarifa total de 74%, afetando empresas como JBS e Marfrig.

Agronegócio: frigoríficos e usinas redirecionam foco para outros mercados

A indústria da carne bovina é um dos segmentos que mais deverá ser afetado. A consequência direta é o redirecionamento de parte da produção para o mercado interno e para outros destinos, como China, outros países da Ásia e Oriente Médio, aponta a B3 Investimentos.

O cenário gera excesso de oferta no Brasil, pressionando as margens de lucro no curto prazo e levando a uma queda pontual nos preços. No longo prazo, a inviabilidade de exportar pode levar a uma redução no abate de fêmeas, o que diminuiria a oferta futura de gado e impulsionaria os preços novamente.

Grandes players como JBS e Marfrig são altamente expostos, mas sua natureza global oferece resiliência. A JBS não prevê impacto material direto em sua operação consolidada, pois sua plataforma global permite o redirecionamento da produção para outros mercados. Para a Marfrig, as exportações do Brasil para os EUA representavam apenas 2% da receita das operações na América do Sul, e a diversificação geográfica para países como Uruguai, Argentina, Filipinas e Indonésia, além do fortalecimento de suas operações nos EUA, ajuda a mitigar os efeitos.

A Minerva Foods, que tinha cerca de 15% de sua receita bruta de exportações para os EUA, também se beneficia de sua presença internacional. A empresa pode redirecionar volumes de suas operações no Brasil para suas plantas na Argentina, Uruguai e Paraguai, que já são aprovadas para o mercado americano, minimizando o impacto em sua performance consolidada.

Já no segmento sucro-alcooleiro, a Jalles Machado, que tem o açúcar orgânico como um dos principais produtos de exportação para os EUA, avalia que o impacto direto é a “redução da competitividade do açúcar orgânico no mercado norte-americano”, levando ao redirecionamento de parte do volume para o mercado interno na forma de açúcar cristal, produto de menor valor agregado.

A empresa estima impacto no fluxo de caixa de R$ 20 a 25 milhões. Contudo, adota postura cautelosa e não pretende realizar mudanças drásticas de estratégia no curto prazo, dada a imprevisibilidade do cenário e a dependência dos EUA pelo açúcar orgânico brasileiro – o Brasil é o maior produtor global.

A São Martinho também prevê o redirecionamento da produção de açúcar para outros mercados, enquanto o foco no mercado interno de etanol oferece uma “válvula de escape”. A Cosan afirma que as tarifas não geram “impactos materiais” em suas operações, dada a baixa dependência das exportações para os EUA.

Papel e celulose: negociação direta e diversificação de mercados para contornar tarifas dos EUA ao Brasil

O setor apresenta panorama diversificado. As exportações de celulose da Suzano para os EUA foram isentas da tarifa adicional de 50%, mas alguns produtos de papel foram incluídos. Para mitigar isso, a Suzano tem formado estoques nos EUA e planeja redirecionar grande parte de suas exportações de papea outras regiões, reduzindo sua exposição ao mercado americano (que hoje representa cerca de 20% das exportações).

A empresa também conseguiu negociar com clientes americanos para que estes arcassem com a tarifa de 10% sobre a celulose. A Klabin, com seu modelo de negócios diversificado e forte presença na América Latina, está mais resiliente a choques externos.

Indústia aeroespacial: o caso de resiliência da Embraer

A Embraer foi beneficiada pela decisão do governo de incluir aeronaves, suas partes e peças, bem como motores elétricos para o setor de aviação na lista de exceções à alíquota adicional de 40%. Segundo a Blue3 Investimentos, a exceção foi vista como movimento estratégico dos EUA para proteger suas cadeias de suprimentos e estabilizar preços internos.

A estimativa da terceira maior fabricante mundial de aviões comerciais é que o custo adicional nas aeronaves seja inferior a 10%, dado o alto percentual de componentes de origem norte-americana. Parte desse custo pode ser repassada aos compradores. O impacto total projetado para a Embraer em 2025 é de cerca de US$ 65 milhões, já com medidas de mitigação incluídas nas projeções financeiras.

A empresa tem atuado junto aos governos brasileiro e norte-americano para retornar à política de tarifa zero para a indústria aeroespacial, que vigorou por mais de 45 anos. A Embraer enfatiza sua relevância para a economia americana, citando a criação de 13 mil empregos e projeções de superávit comercial de US$ 8 bilhões para os EUA até 2030.

Outros setores também se adaptam às tarifas dos EUA para produtos do Brasil

A Tupy, cujas exportações do Brasil para os EUA representam cerca de 14% de suas receitas e estão sujeitas à tarifa de 50%, planeja transferir produção para o México, aproveitando que produtos que cumprem os requisitos do USMCA (acordo comercial entre EUA, México e Canadá) são isentos de tarifas.

A WEG está se valendo de sua “presença industrial global” para realocar rotas de exportação. “Podemos usar o Brasil para atender a demanda local no México e Índia, e usar a produção desses países para atender o mercado americano”, explicou executivo da empresa.

A Gerdau, embora não diretamente impactada por suas operações locais nos EUA, reconhece que seus clientes brasileiros, que transformam aço em máquinas e equipamentos para exportação aos EUA, serão afetados. Diante desse cenário e da “competição predatória” de importados no Brasil, a Gerdau decidiu reduzir investimentos no país e já desligou cerca de 1.500 pessoas.



Fonte ==> UOL

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