O plano de ação estava delineado desde o início do ano. O objetivo: “proteger o líder”, como descreveu um aliado de Bolsonaro, criando um ambiente que impeça uma ordem de prisão e possa torná-lo apto às eleições de 2026.
Daí o empenho na aprovação do projeto de anistia aos presos do 8/1, tão abrangente que alcançaria quem tivesse participado de atos passados e futuros. Cogitou-se alterar a Lei da Ficha Limpa, reduzindo o tempo de condenação. A agenda corporativista foi utilizada para pedir a suspensão da ação penal contra o deputado Ramagem, adrede trancando o processo da trama golpista.
Em março, Eduardo Bolsonaro se mandou para os Estados Unidos, num movimento inspirado nas lições do guru da extrema direita, Steve Bannon, que aconselha criar uma big mentira para atrair atenções; no caso, a ditadura da toga no Brasil. A campanha para que o governo Trump aplique sanções ao ministro Alexandre de Moraes abriu até uma vaquinha para arrecadar fundos destinados ao Pix do ex-presidente e ajudar o filho 03 a viver no exterior.
As voltas que o mundo dá. Em 2022, sob Joe Biden, os EUA fizeram outra campanha, para incentivar os líderes políticos e militares brasileiros a respeitarem a democracia. Em seu depoimento ao STF, o ex-comandante do Exército Freire Gomes disse que não havia “apoio nacional ou internacional”, quase revelando que o problema não era dar o golpe, e sim dar um golpe sem ajuda dos gringos.
O Brasil não tem um ditador chamado Xandão. O que há é uma cultura política cínica alimentada por conceitos débeis e distorcidos como polarização e pacificação, permitindo que Bolsonaro use o país como seu quintal —a ponto de cobrar de governadores de direita a se posicionarem contra sua inelegibilidade e, no Rio, condicionar o apoio ao candidato de Cláudio Castro ao governo do estado, Rodrigo Bacellar, à exigência de que o vice seja o empresário Renato Araújo, o cara que perdeu a eleição para prefeito de Angra dos Reis, mas fez uma reforma na casa do capitão.
Fonte ==> Folha SP