São Paulo
Em dia de Parada do Orgulho LGBT em São Paulo, Gloria Gaynor, 81 —intérprete do maior hino LGBTQIA+ de todos os tempos, “I Will Survive”— se diz “de coração partido”. Ela afirma se sentir assim ao ver, quase 50 anos depois de estourar com o hit, o aumento da violência e do ódio contra a comunidade.
Aos 81 anos, cristã e de tendências conservadoras, a cantora descreve a homofobia como “obra do Satanás” — que, segundo ela, “anda bem ocupado ultimamente”. O F5 a entrevistou em evento virtual para divulgar a estreia da cinebiografia “Gloria Gaynor: I Will Survive” no canal pago Lifetime. O filme vai ao ar no próximo sábado (28).
“É lamentável, é de partir o coração. O mundo está padecendo de falta de amor”, diz Gloria. “Um dos maiores truques do Satanás foi convencer os outros de que ele não existe. Ele não só existe, como anda bem ocupado ultimamente. Ele faz as pessoas acharem que o ódio e a intolerância estão dentro delas, mas isso não é verdade”, explica ela, segundo sua atual visão de mundo.
Eleita a rainha da disco music nos anos 1980, Gloria continua fazendo shows e turnês pelo mundo e arrebatando o público com seus maiores sucessos. No ano passado, tocou no Rock in Rio no mesmo dia de Cindy Lauper, Katy Perry e Karol G.
Na vida privada, porém, é uma senhora católica, seguidora da Bíblia e dos ensinamentos de Jesus —entre eles, a tolerância e o amor. Dona de Grammys tanto no gênero disco quanto no gospel, o que faz questão de lembrar durante a entrevista, Gloria elege como música favorita de sua carreira a que dá título ao filme, “I Will Survive” —e considera a canção um presente divino.
“É uma mensagem de esperança, coragem e fé, de que você pode superar o que quer que você esteja vivendo. É uma celebração da tenacidade do espírito humano, e esse foi o meu propósito quando gravei essa música”, diz.
“Quando a toco nos meus shows, sei que estou entregando ao público algo que eles vão levar para casa consigo: empoderamento, orgulho, alegria e coragem. Sinto uma sensação de missão cumprida.”
SOBREVIVENTE
No filme, Gloria é interpretada pela atriz Joaquina Kalukango, “dona de uma voz incrível”, elogia. Lance Gross vive seu marido e empresário, Linwood Simon, a quem, anos depois, a artista acusou de diversas violências.
“Vocês vão conhecer minha vida privada e as lutas que vivi no casamento e na carreira”, diz ela sobre o filme. “Vocês vão saber que, se tiverem quaisquer problemas parecidos com o que eu vivi, vocês podem superar. Vocês vão sobreviver.”
Entre os episódios de sua vida que elencou como imprescindíveis de serem retratados no filme, ela cita a perda precoce da mãe, o casamento abusivo e o momento em que foi “tocada pelo espírito santo” e impedida de se envolver com cocaína. “Mas a parte mais importante do filme foi falar sobre minha fé”, completa ela, que em 2019 ganhou o Grammy de melhor álbum gospel por “Testimony”.
“Minha mãe era uma pessoa maravilhosa e eu a perdi com apenas 25 anos. Havia tanto mais que eu poderia ter aprendido com ela. Mas as coisas que ela me ensinou ainda são pilares da minha vida. Ela está comigo em todos os momentos e eu estou sempre pensando nela, nos momentos bons e ruins”, diz a cantora.
Nascida e criada em Nova Jersey, nos EUA, Gloria sempre teve o apoio da mãe, Queenie Mae, na carreira musical. No entanto, a perdeu antes de ser alçada ao posto de estrela pop.
“Uma das mensagens que quero deixar com o filme é a de que a fé pode te ajudar a descobrir seus talentos e habilidades para fazer o melhor a partir deles e florescer, não apenas sobreviver. Não queremos só sobreviver e lutar. Também queremos florescer”, encerra a cantora.
Fonte ==> Folha SP