Enquanto boa parte da população não vê a hora de o frio tão intenso ir embora, as macieiras de Santa Catarina e do Rio Grande do Sul se veem no melhor dos mundos. Se essa temperatura baixa persistir por mais algumas semanas, melhor ainda.
A macieira é uma espécie que perde as folhas no inverno. No outono, quando os dias começam a encurtar e a esfriar aos poucos, parte dos nutrientes das folhas vai para os órgãos da planta e ela entra em dormência no período do frio.
Se o inverno for quente, esse processo não é totalmente completo. É um sono breve. Quando o frio é intenso, ela vai para um sono profundo. “Se essa dormência for profunda, e a planta conseguir dormir bem e organizar bem os órgãos, ela vai brotar na primavera com todo o vigor, vão sair folhas maiores, vai ter uma brotação da planta mais geral e aí nós temos uma boa expectativa de produção”, afirma Celso Zancan, engenheiro agrônomo e diretor de logística e mercado externo da ABPM (Associação Brasileira de Produtores de Maçã).
As condições climáticas deste ano deverão dar de 550 a 600 horas com temperaturas abaixo de 7,2 °C. Em geral, esse número de horas fica entre 310 e 400, segundo o engenheiro.
O cenário deste ano tem animado os produtores. O frio intenso e consistente é um primeiro sinal de uma safra maior e de excelente qualidade em 2026, diz Francisco Schio, presidente da ABPM. Muita coisa, no entanto, ainda pode acontecer até a colheita, afirma.
Esse processo silencioso que o frio provoca nos pomares fará com que a maçã chegue ao consumidor crocante e doce. É como se a macieira estivesse dormindo profundamente e acordasse com vigor para a produção de frutos firmes, doces e uniformes, diz o presidente da associação.
A safra de 2024/25 foi de 850 mil toneladas, e Schio, em vista do inverno mais rigoroso neste ano, diz que as perspectivas são muito boas para a próxima safra, podendo atingir de 1 milhão a 1,1 milhão de toneladas. Com o inverno bom que está ocorrendo, a planta tem uma boa chance de brotar bem, sair gemas e flores com boa qualidade, além de vigorosas. Isso facilita a polinização, afirma Zancan.
As macieiras florescem no início de outubro, a colheita ocorre de fevereiro a abril, e a comercialização das maçãs vai até dezembro ou janeiro seguinte.
A expectativa de produção para esta safra é grande, mas há muitas incertezas pelo caminho, segundo o engenheiro agrônomo. Elas podem vir da economia, dos mercados, da flutuação de dólar e do clima.
Pelo menos o setor não está sujeito às tarifas de 50% impostas ao Brasil pelos Estados Unidos. A maçã brasileira, por ter um sabor diferenciado, é bem aceita no mercado externo, e tem como principais importadores Índia, Bangladesh, Portugal, Irlanda, Inglaterra e Colômbia. Zancan destaca que os adidos agrícolas fizeram um bom trabalho na Índia, onde o potencial é grande. Já Chile, Itália, França e outros países europeus são fornecedores para o Brasil.
Para Zancan, a participação brasileira no mercado externo passa pelas feiras de Madri e de Berlim, importantes nas negociações mundiais. Nelas estão os principais participantes desse mercado do mundo, tanto os que vendem como os que compram.
Fonte ==> Folha SP