É da natureza do PT radicalizar o discurso ideológico ao se ver politicamente acuado. Assim foi quando Dilma Rousseff, com a reeleição sob risco em 2014, demonizou na campanha adversários e reformas econômicas, a ponto de descrever a autonomia do Banco Central como uma conspiração de banqueiros para tirar comida da mesa de uma família pobre.
Algo muito semelhante ocorre agora. Luiz Inácio Lula da Silva, com a popularidade em baixa e após mais uma derrota retumbante no Congresso Nacional, decidiu, com a ajuda de aliados e militantes, transformar sua tentativa de elevar um imposto numa cruzada heroica contra opressores poderosos dos brasileiros desvalidos.
A farsa é evidente nos dois casos. Reeleita, Dilma tratou de recrutar um ministro da Fazenda no mercado financeiro e tentou, em meio à tardia alta dos juros, fazer os ajustes antes renegados. O colapso orçamentário produziu inflação, recessão, desemprego e aumento da pobreza.
Já a nova ofensiva petista, hoje concentrada nas redes sociais, é inspirada numa medida tomada de modo improvisado e sem convicção há mais de um mês pela área econômica do governo, que havia se disposto a recuar de imediato ante a má repercussão. A elevação do IOF só se tornou cavalo de batalha depois que as alternativas apresentadas tampouco foram bem recebidas.
A estratégia de satanização das demais forças políticas, como se apenas o PT e seu entorno fossem capazes de fazer algo pelos pobres, é muito perigosa para um governo —como o demonstra o caso extremo da derrocada de Dilma. Não menos importante, perpetuam-se mistificações que aviltam o debate sempre urgente sobre o combate à pobreza e a desigualdade social.
É fato que o sistema tributário brasileiro é regressivo e iníquo, assim como que os primeiros governos petistas tiveram méritos reconhecidos no lançamento do Bolsa Família e demais programas de inclusão. Há vários outros fatores a considerar, todavia, nos quais o partido não se sai bem.
O PT historicamente tem menosprezado a importância do equilíbrio orçamentário e do controle da inflação, o que o levou a se opor, por exemplo, à Lei de Responsabilidade Fiscal, de 2000, e ao Plano Real, de 1994 —que à época permitiu queda imediata e substancial da pobreza.
Subsídios com dinheiro do contribuinte fartamente concedidos a setores empresariais foram marcas das administrações petistas, bem como o alinhamento perene a demandas e interesses de grandes corporações estatais, contribuindo para a vergonhosa concentração da renda nacional.
Hoje, os rombos no Orçamento agravados por Lula resultaram em juros estratosféricos, que implicam pagamentos também descomunais do Tesouro Nacional aos famigerados rentistas —e ameaçam o crescimento econômico duradouro, condição mais importante para a superação definitiva das mazelas sociais.
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Fonte ==> Folha SP