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NY: Pedágio urbano é sucesso, e por isso pode ser extinto – 28/05/2025 – Lúcia Guimarães

A imagem mostra uma rua movimentada em Times Square, Nova Iorque, com muitas pessoas caminhando. Há mesas com guarda-sóis vermelhos em um lado da calçada e várias lojas e anúncios visíveis ao fundo. O clima parece ensolarado e há uma grande quantidade de pessoas, incluindo turistas e locais, interagindo no espaço público.

Na semana passada, voltei a ter um sonho que reflete uma angústia recorrente: não me lembro onde estacionei meu Chevette Hatch, modelo de 1978. Como acordei no meio da noite, por alguns segundos acreditei que ia encontrar multas no para-brisas por não ter removido o carro no horário estabelecido para a passagem do caminhão varredor de meio fio.

Só há um problema: não possuo um Chevette Hatch desde 1991. O modelo não é fabricado desde 1986, o ano em que comprei o carro já com 135 mil km rodados. Nunca mais fiz a besteira de comprar outro carro em Manhattan, onde uma vaga de garagem custa, em média, o equivalente a R$ 3.000 por mês.

O relacionamento entre o automóvel e a mais densa aglomeração urbana dos Estados Unidos é profundamente disfuncional. Os nova-iorquinos passam 200 milhões de horas por ano procurando estacionamento grátis na rua. A qualquer momento, em Park Slope, no Brooklyn, metade dos motoristas em circulação está procurando vagas.

A grande maioria dos donos de automóveis aqui não dirige para o trabalho, não só pelo medo de não encontrar outra vaga, mas porque a velocidade média do tráfego, na hora do rush, pode cair para 8 km por hora. O que torna mais difícil explicar a ameaça de extinção do pedágio urbano instituído no começo de janeiro no centro de Manhattan, foco de congestionamentos épicos.

O pedágio urbano se mostrou um sucesso. Os engarrafamentos diminuíram, os acidentes também, e um temor inicial —de que o trânsito ia piorar nas vizinhanças adjacentes ao perímetro do pedágio— não se realizou. As lentas linhas de ônibus circulam com maior rapidez. Há mais nova-iorquinos usando as faixas de bicicletas e o metrô, e até a frota de táxis amarelos, esmagada por aplicativos como Uber e Lyft, conta com mais passageiros.

Numa era em que tudo vira política de identidade, resultados com vantagens reais —econômicas, ambientais e de qualidade de vida— são ignorados pelo impulso de fazer campanha permanente. O estado e a cidade de Nova York são governados por democratas.

Um juiz federal acaba de bloquear até o dia 9 de junho uma ameaça de represália do secretário de Transportes, Sean Duffy, sob ordens do presidente republicano que cresceu no Queens, separado de Manhattan por um túnel ou uma ponte. Duffy tem o poder de cortar fundos para a extensão de uma linha de metrô ou atrasar obras de reparo de estradas na dilapidada infraestrutura estadual.

O excesso de carros particulares alimenta toda uma indústria de corrupção, seja na cobrança de multas ou na concessão de cartões especiais para estacionamento em locais proibidos —como a identificação de médico. Cartões falsificados são vendidos por até US$ 2.600 (R$ 14,8 mil).

Minha conta de luz traz embutida esta distorção urbana. A concessionária de energia de Nova York gasta milhões de dólares por ano com monitores de vagas. São donos de carros que estacionam numa rua e bloqueiam vagas para a chegada de equipes de manutenção. Não é incomum os monitores passarem dias dormindo nos carros, usando banheiros de mercearias e enfrentando temperaturas abaixo de zero.

Essa insensatez coletiva foi brilhantemente satirizada em “Bananas” (1971) quando Woody Allen confessa seu sonho recorrente: figuras encapuzadas tentam estacionar a cruz em que ele foi martirizado e entram em batalha com um grupo que queria estacionar outra cruz na mesma vaga.



Fonte ==> Folha SP

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