Você já viu aquela cena de “Piratas do Caribe” em que o Capitão Jack Sparrow e seu amigo andam no fundo do mar com um barco virado sobre a cabeça, respirando lá dentro?
Parece uma ideia genial, não é mesmo? Afinal, o ar fica preso, e eles podem caminhar debaixo d’água como se nada estivesse acontecendo. Mas será que isso funcionaria mesmo fora das telas do cinema? Vamos mergulhar na física por trás dessa cena e descobrir o que aconteceria de verdade.
A ideia do barco virado é parecida com algo real chamado sino de mergulho, que é uma estrutura que prende o ar debaixo d’água e permite que mergulhadores respirem por um tempo. Mas há um grande problema na versão do Jack Sparrow: o empuxo.
Essa é a força que a água exerce para empurrar qualquer objeto para cima, e ela foi explicada há mais de 2.000 anos por Arquimedes. Segundo sua famosa lei, todo corpo imerso em um fluido recebe uma força para cima igual ao peso do líquido que ele desloca. Traduzindo: quanto mais volume o objeto tiver, mais forte é essa “empurradinha” da água.
O barco do filme é cheio de ar, e o ar é leve! Isso significa que a força empurrando o barco para cima seria muito maior que o peso do próprio barco e dos dois piratas juntos. Na prática, seria impossível manter o barco submerso.
Ele subiria à superfície em segundos, como um balde vazio tentando afundar numa piscina. Para conseguir o que o filme mostra, o barco teria que ser incrivelmente pesado, o que também tornaria impossível os personagens o carregarem até o fundo.
Mas mesmo que, por mágica, eles conseguissem mantê-lo lá embaixo, outro problema apareceria: a pressão da água. Quanto mais fundo você vai, maior é a pressão, e ela aumenta cerca de uma atmosfera a cada dez metros. Essa pressão espreme o ar dentro do barco, fazendo o volume diminuir. Ou seja, quanto mais fundo o barco afundasse, menos espaço de ar sobraria para respirar.
E tem mais! Dentro dessa pequena bolha de ar, o maior perigo seria o acúmulo de gás carbônico, o CO₂. Quando respiramos, usamos o oxigênio e liberamos CO₂. Num espaço fechado, esse gás vai se acumulando até se tornar tóxico. Primeiro, causa tontura, depois desmaio, e se ninguém sair de lá, pode ser fatal. Por isso, o limite de tempo seria de poucos minutos, mesmo que houvesse ar suficiente para respirar.
Apesar de impossível na prática, a cena tem um pé na história da ciência. Desde o século 17, engenheiros criaram verdadeiros sinos de mergulho que funcionavam com o mesmo princípio: prender o ar sob a água. Esses dispositivos permitiram construir pontes, explorar o fundo do mar e até inspiraram os primeiros submarinos. A diferença é que eles eram feitos com metal pesado e controlavam cuidadosamente o ar e a pressão.
No fim das contas, o que o filme mostra é pura ficção, mas cheia de ciência escondida. A física nos ensina que ar e água têm densidades diferentes, e essa diferença cria o empuxo. Ela também explica como a pressão muda com a profundidade e por que o corpo humano precisa de oxigênio constante.
Então, da próxima vez que assistir ao Capitão Jack Sparrow andando sob o mar, lembre-se: quem rouba a cena de verdade é a ciência, que mostra como o mundo funciona.
Fonte ==> Folha SP