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Por que eu escrevo – 18/12/2025 – Ruy Castro

Um homem de cabelos grisalhos e óculos, sorrindo enquanto está sentado em um sofá de couro preto. Ele está usando uma camiseta preta e tem as mãos entrelaçadas. Ao fundo, há uma lâmpada verde acesa sobre uma mesa, criando um ambiente acolhedor e iluminado.

Minha colega Mirian Goldenberg tirou-me as palavras da boca outro dia. Disse que, com ou sem a IA, ela continuará a escrever. É exatamente o que eu queria dizer. Há quase 100 anos não faço outra coisa e é difícil dispensar velhos hábitos. Além disso, não sei fazer mais nada —nunca dirigi um carro, mal consigo trocar uma lâmpada e não sei cozinhar nem macarrão. O tempo em que podia estar desenvolvendo essas habilidades foi gasto lendo pessoas que escreviam bem e tentando aprender com elas.

Assim como as crianças da pré-história, comecei escrevendo nas paredes, não das cavernas e com uma costela de mamute embebida em sangue, mas nas da sala de casa mesmo, e a lápis. Logo cheguei à máquina de escrever e, ainda quase imberbe, vi-me numa Redação de jornal. O Rio tinha então 15 jornais diários, mas eu estava justamente no que queria: o heroico Correio da Manhã. Foi minha introdução ao combate entre a página impressa e o obscurantismo, no caso, vencido por este. O jornal foi destruído pelo regime militar na sequência do AI-5, em 1968, mas isso desenvolveria em nós, seus órfãos, uma casca grossa que nos valeria para sempre.

Dali passei por uma quantidade de veículos e, não muito comum na profissão, orgulho-me de nunca ter produzido uma linha em que não acreditasse. Claro que me arrependo de muitas, mas, na época, me pareciam as corretas. Quero crer também que haja uma coerência entre elas: desafio um futuro pesquisador a encontrar, em milhares de artigos, crônicas e reportagens, um elogio a um governante.

Ele também não encontrará nas gavetas uma única página que possa chamar de “inédita”, não publicada. Poemas, então, nem pensar —por respeito aos poetas que admiro, jamais cometi um na vida. Tudo que produzi até hoje foi escrito para sair amanhã, na semana seguinte, dali a três meses ou no ano que vem. Tudo com destino marcado: colunas de jornal, uma reportagem para uma revista, um livro já programado pela editora.

O problema, Mirian, será: o que fazer no Além?



Fonte ==> Folha SP

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