A influência africana na formação do estado que concentra a maior proporção de pessoas autodeclaradas brancas (78,4%, pelo IBGE) no Brasil será contada na maior festa popular do país. Em 2026, a Portela entrará na avenida com o enredo “O Mistério do Príncipe do Bará — A oração do negrinho e a ressurreição de sua coroa sob o céu aberto do Rio Grande”. A identidade africana dos gaúchos ganhará visibilidade em versos sobre a trajetória de Custódio Joaquim de Almeida, conhecido como “Príncipe Bará” (referência ao Orixá também conhecido como Exu).
Grande parte do que é sabido sobre Custódio foi transmitido pela oralidade, mas pesquisas acadêmicas têm buscado remontar a trajetória deste homem que veio da República do Benin, na África, para o Brasil no século 19. Pelo que se sabe, ele possuía habilidade política, conhecimentos de medicina ancestral e liderança espiritual.
Em solo gaúcho, viveu em Rio Grande, Pelotas, Bagé e Porto Alegre, onde teria chegado a pedido de Júlio de Castilhos, então presidente do estado. A disseminação da principal religião de matriz africana no RS, o Batuque, é atribuída a Custódio. A ascendência afro no estado é tamanha a ponto desta unidade da federação concentrar a maior proporção de praticantes de religiões de matriz africana no país (dado do Censo 2022).
O legado de Custódio também está relacionado ao assentamento do Bará do Mercado Público de Porto Alegre, marco religioso representado por um mosaico de sete chaves distribuídas em círculo na encruzilhada central do prédio. Por ironia, uma imagem de Bará foi vandalizada durante a festa em homenagem ao Orixá na capital gaúcha no dia (13 de junho) em que foi anunciado o tema do desfile da centenária escola de samba do RJ.
Sob o manto azul e branco da Portela, que o próximo Carnaval contribua para o enfrentamento ao racismo e à intolerância religiosa, e ajude o Brasil e o mundo a enxergar que “O RS também é negro“, como relatei em coluna de maio de 2024. Alupô (Salve) Bará!
Fonte ==> Folha SP