O banco central americano (Fed) manteve inalterada a taxa básica de juros entre 4,25% e 4,50% ao ano na quarta (18). A decisão, esperada pelos mercados, reflete a abordagem cautelosa do órgão diante de incertezas no ambiente econômico, impulsionadas pela política comercial do presidente Donald Trump, particularmente sobre as tarifas, que impactam a inflação.
A estimativa do Fed para a alta de preços em 2025 subiu para 3,1%, ante 2,8% em março. Ao mesmo tempo, caiu a de crescimento neste ano, de 1,7% para 1,4%, enquanto o desemprego deve subir ligeiramente para 4,5%, ante estimativa anterior de 4,4%.
Manteve-se a projeção mediana de dois cortes na taxa de juros de 0,25 ponto percentual em 2025, um sinal de continuidade até que haja maior clareza. Há, no entanto, crescente divisão interna no comitê de política monetária da entidade quanto ao momento e à extensão de futuros afrouxamentos. Dez membros apoiam ao menos dois cortes, enquanto nove visam um ou nenhum.
Alguns deles, preocupados com a carestia induzida por tarifas, defendem a restrição prolongada para evitar um salto nas expectativas de inflação, especialmente porque as empresas relatam custos crescentes. Outros, citando sinais de enfraquecimento do mercado de trabalho, apoiam a antecipação dos cortes para impulsionar a atividade.
A tensão aumenta ainda com as críticas agressivas de Trump ao presidente do Fed, Jerome Powell —comportamento semelhante ao do brasileiro Luiz Inácio Lula da Silva (PT) em relação ao ex-presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto.
Repetindo equivocadas crenças populistas, além de ofensas como “perdedor” e “não é uma pessoa inteligente”, o republicano tem exigido cortes robustos de juros, alegando que impulsionariam o crescimento e reduziriam os custos da dívida federal.
Na verdade, porém, não persistir no esforço de controle da inflação elevaria o peso de domá-la posteriormente, na forma de juros ainda mais altos e perda de bem-estar para a população.
Felizmente, em maio de 2025, a Suprema Corte reafirmou a estrutura do Fed na burocracia federal, protegendo a instituição dos ataques de Trump.
Por ora, Powell se equilibra e mantém o rumo. Em coletiva de imprensa, enfatizou uma abordagem orientada por dados, do tipo “esperar para ver”. Assim, o cenário mais provável, mesmo com as investidas do presidente americano, parece ser o de juros menores ao longo deste ano no principal centro financeiro global.
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Fonte ==> Folha SP