No dia 21 de julho último, jair Bolsonaro adentrou a Câmara dos Deputados, em Brasília, para mostrar aos amigos sua recém-inaugurada tornozeleira eletrônica. Pelo desembaraço com que se equilibrou numa perna para levantar a outra, exibindo a canela e o dispositivo, parecia em grande forma. Oito dias depois, comandou uma carreata e motociata no centro de Brasília, empoleirado na caçamba do carro de som, mudo, como lhe foi ordenado, mas acenando euforicamente. Ninguém o diria deprimido, debilitado, depauperado.
Tal vigor era o mesmo que Bolsonaro ostentou em quatro anos de triunfalismo, bazófias e agressões no Planalto. Suas frequentes proezas a cavalo e a bordo de motos e jet skis em dias de expediente indicavam um presidente saudabilíssimo —aquele que, com seu “passado de atleta”, como ele dizia, o tornava imune à Covid, “uma gripezinha”, e lhe permitia zombar da falta de ar e agonia dos 700 mil brasileiros fracos atingidos por ela. E não se esqueça da sua condição de “imbrochável”, privilégio de um homem de vida sexual ativa, que, como declarou, usava seu apartamento funcional em Brasília “para comer gente”.
Tanta disposição o autorizava a se pavonear em desfiles, tanqueatas e palanques, como no dia 7 de setembro de 2021, em São Paulo, em que, entre outras fanfarronadas contra o STF e o TSE, proclamou que “nunca seria preso” e que “as decisões do sr. Alexandre de Moraes este presidente não mais cumprirá”.
Mas, como sabemos, Bolsonaro se enganou. Está preso, cumprindo as decisões do STF. Nas quatro linhas de suas paredes, assiste ao prelúdio de seus anos em cana.
Só lhe resta o que fazem todos os políticos na sua situação: ficar dodói. Incrível como a saúde dos super-homens como ele se abala ao simples bater do martelo de um juiz, obrigando sua defesa a alegar razões médicas para a redução da sentença, a prisão domiciliar ou mesmo a suspensão da pena. Não será surpresa se, já nos próximos dias, Bolsonaro, mocho e troncho, aparecer tripulando uma cadeira de rodas.
Fonte ==> Folha SP